segunda-feira, 27 de abril de 2009

“Se Deus quiser” ou “em nome de Jesus”?

Na onda pós-moderna da teologia da prosperidade e também nas asas da arrogância daqueles que dizem possuir crédito com Deus ao ponto de poderem, por merecimento, herança, ou seja lá o que for que eles creiam, exigir do criador alguma benesse; facilmente ouvimos frases do tipo “Em nome de JESUS...” farei isso ou aquilo; terei, possuirei, conquistarei, recuperarei, e tantos mais outros eis sufixados com uma tônica que traduz de forma explícita o que o âmago de muitas pessoas ocultam – a idéia de que se me mantenho fiel – seja lá como entendam isso – Deus está praticamente incumbido de me fazer o que tenho pedido; principalmente quando utilizo o seu nome – e sendo este nome poderoso (Jesus) – algo tem que acontecer.

Mas será mesmo que o simples fato da utilização do nome de Jesus garante o resultado? Note bem, que o que queremos dizer ou até mesmo questionar, não é a capacidade de eficácia que Cristo tenha ainda hoje – isso é evidente para aqueles que vivem sob a fé do evangelho de Deus. O que está em xeque aqui, é a associação livre e desenfreada de se atrelar a verbalização dessas cinco letras (J-E-S-U-S) ao imediato e obrigatório acontecimento de algo – e de preferência, muito bom – em minha vida.

Assim, surge a perguntinha básica: será que a Bíblia (ou o próprio Cristo) nos ensinou a fazer qualquer coisa em nome de Jesus ou a colocar como sendo em nome de Jesus, tudo o que eu faço? Ainda que pareça um simples trocadilho de sentenças idênticas, contudo não são. No primeiro momento estaríamos aceitando a idéia de que tudo o que devemos fazer, o devemos fazer sob o nome de Jesus – debaixo da autoridade dele – para que Ele, se assim lhe aprouver, nos auxilie na realização, nos dirija, nos guie, caso seja de sua vontade. No outro momento estamos questionando se em algum lugar fica claro que o fato de usarmos o nome de Jesus, torne qualquer atitude ou ação legalmente espiritual, correta e benéfica – independente do que seja. É como se o nome de Jesus purificasse minha ação, a tal ponto de cristianizá-la, seja ela qual fosse. Ficou claro?

É lógico que a Bíblia nos orienta a fazermos tudo em nome de Jesus (Cl 3,17) e também de que há grande poder e autoridade em seu nome (Jo 14,13; At 4,12). Todavia, em nenhuma dessas passagens, ou em nenhum outro momento, encontramos qualquer alusão a situações díspares da vontade de Deus, em que a utilização mística do nome de Jesus tenha espiritualizado tais atitudes até então equivocadas ou errôneas.

Por conseguinte, encontramos um caminho de melhor apoio e orientação nas palavras de Tiago (o irmão do Mestre) ao questionar sobre a nossa vida. Claramente ele prefere a utilização do “se Deus quiser” a “Em nome de Jesus”. “Pois não sabemos o que sucederá amanhã. O que é a nossa vida? Somos apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa... devíamos então dizer (em vez de “amanhã faremos isso ou aquilo”) – se o Senhor quiser, faremos isto ou aquilo” (Tg 4,13-15).

Apesar da expressão “em nome de Jesus” ter um caráter mais de fé e confiança no poder de Deus, em detrimento de uma falsa impressão de que o “se Deus quiser” pareça mais incrédulo e duvidoso, ainda assim prefiro esse a aquele, pelo fato de concordar com a idéia de Tiago, de que nossas pretensões são arrogantes e assim, malignas; e ainda, falseadas pela utilização exacerbada do nome de Jesus, como querendo corroborar uma autenticidade a um fato que tem no seu nascedouro um propósito equivocado e não o de glorificar a Deus.

Desta forma, enxergamos o “se Deus quiser” como um resultado latente de fé. Uma fé genuína ao ponto de entender e aceitar que, ainda que queiramos muito e por força do hábito sejamos levados a utilizar de forma eloquente o nome de Jesus – tudo só acontecerá – se acontecer – por causa que Deus quis. E fato é que nem sempre Deus quer, que tudo o que em nome de Jesus falamos, aconteça.

Não há contradição na trindade, nem desavença no ser de Deus. Há, muito pelo contrário, falta de maturidade de alguns em entender e aceitar a soberania desse Deus como infinitamente mais sensata e poderosa do que toda a nossa simplória percepção da existência. Onde estávamos quando ele fundava a Terra? Não estávamos, porque nem éramos – aqui está a soberania.

Só vitória no Cristo que sempre quer fazer em nós, muito mais além daquilo que pedimos ou pensamos (Ef 3,20)!

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