segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PrAzEr AsSaSsInO

Um sentimento estranho me ocorreu na manhã do último sábado ao caminhar um pouco apressadamente para o trabalho e me deparar com uma manchete de jornal (o assunto foi manchete em todos) que celebrava o acerto da PM em salvar a vida da refém das mãos de um sequestrador [sic].

Na mesma hora me veio à mente uma total hipocrisia paradoxa que me fez rir debochadamente para mim mesmo e questionar o quanto somos, digamos assim, inquietos. Nossa inquietude se verbaliza em verborréias desse estilo: somos tão santos de um lado e tão assassinos de outro. Onde estamos então?

Acredito que estamos entre o sentimento moralista exacerbado de alguns, que se dizem ofendidos pelas insinuações sexuais de um comercial de 30 segundos – que passa no intervalo de uma novela das 8 (cheia de belas nádegas de fora) e a alegria e a vibração por uma pessoa de 25 anos de idade ter sido executada por um atirador de elite (!?), numa reportagem que passou numa tarde inteira.

Somos tão esquisitos como humanos que ao mesmo tempo em que uma velhinha achando normal que a neta dela fizesse apenas sexo (sem compromisso) com um bonitão, famoso e rico nos incomoda tanto; e em nada nos incomoda ver um perdido sendo executado diante das câmeras.

É óbvio que a refém em questão não era minha irmã, minha filha, minha mãe ou esposa e por isso meu julgamento é de camarote e assim, com certeza, limitadíssimo – e é justamente por isso que tento não fazê-lo de maneira tão desproporcional. Todavia, também o marginalizado em questão nada meu pôde ser – embora nosso pai tenha sido o mesmo, não tive a oportunidade de chamá-lo irmão. Falha mais nossa do que dele certamente.

Não é a vida que deve reinar sobre a morte e o perdão sobre a severidade de uma justiça injusta? O fato de nossos policiais, os incorruptos, ganharem mal, não justifica em nada a execução. Ou justifica?

Todavia, nossa demagogia e nosso sentimento forjado de pureza podre, nos fazem aplaudir a morte em detrimento da vida. Sim, porque há mais vida no sexo do que no assassinato. Não na vida daquele sexo do comercial, mas a morte é sim a do assassinato do outro comercial.

O que está acontecendo com a gente? Para onde iremos nós? Preocupados com a poeira da cadeira e deixando nosso esgoto de mentiras no meio da sala!? Eu tive a opção de mudar o canal, se é que de fato me ofendeu tanto assim a “velhinha safada”. O marginalizado perdido de 25 anos só teve uma escolha: a de morrer em silêncio, calado, caído. Morto por um atirador de elite. NÃO ESTOU DEFENDENDO O BANDIDO, muito pelo contrário, estou defendendo a vida e o ser pensante em toda essa história – afinal de contas, se temos um imbecil de um lado, e um da “elite” de outro e o da “elite” age como imbecil, qual o sentido de tudo isso??

Prendamos então os editores das milhares de playboys e revistas do gênero e soltemos todos os atiradores. Afinal, nos incomoda mais uma suposição de sexualidade do que uma execução sumária.

Estamos muito mal das pernas mesmo...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DIÁLOGO DE CEGOS

- Mas eu continuo sem entender zé Bento, o que pode haver de bão num ônibus lotado, com um tantão de gente suada, pisão no meu pé e eu chegando todo amarrotado no meu trabaio e ainda por cima, vinte minutos atrasado?

- Seu trabaio ué!

- Como assim meu trabaio espertinho? Se eu não tivesse o trabaio!?

- Aí ocê não se amarrotaria trouxa...

- Mas aí eu taria era desempregado né!

- Mas é ocê que disse que acha ruim trabaiá.

- Eu num disse isso. Disse que num gosto de chegar amarrotado, suado e cansado no meu sirviçu.

- Ora, então vai andando uai!

- Mas cumé q’eu vô andando!? Moro longe dimais da joça do trabaio zé! Ocê sabe disso.

- Então mora perto; que aí ocê pode ir andando bem lentamente. Num chega atrasado, nem suado, nem amarrotado e ainda emagrece – que ocê ta precisando um pouquinho né...

- Mas como q eu vou fazer pra morar perto? As coisas não são assim rápidas – quem vai querer comprar minha casa?

- Estou tentando primeiramente resolver o problema do seu trabaio e não da sua casa – será que dá pra esperar – resolver uma coisa de cada vez?

- Ta bom zé Bento. Mas tem mais um porém.

- Diga.

- De apé eu posso pegar chuva e chegar todo moiado no sirviçu.

- E você não conhece o tal de guarda-chuva que criaram já faz séulos?

- Mas eu num tenho guarda-chuva.

- Ora, com o dinheiro que você não vai gastar nas conduções, compre uma sombrinha pra ocê e pronto...

- Ih... acho que isso vai dar muito trabaio. Acho melhor mesmo é sair do trabaio, continuar morando no mesmo lugar e nem gastar com passagem, nem guarda-chuva.

- É florêncio... talvez seja melhor isso mesmo – assim nós continua morando perto. Mas me diz uma coisa.

- Fala Bento.

- Se Ocê num trabalhar, como é que vai comer?

- Era essa a pergunta que eu iria fazer pro’cê – que vê sempre algo bom em tudo – aí pensei: nem preciso perguntar pro zé: creio que o Bento fará questão de me alimentá...

- Tenho que admitir Florêncio: é ocê que sempre vê algo bom em tudo...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Músicas do Mundo, para crentes de outro mundo...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será

Por isso que vivo e não tenho a vergonha de ser feliz;
Canto, canto e canto a beleza de ser um eterno aprendiz.

Pois tudo que criastes é um milagre:
Pensando em mim fizestes a
Via Láctea e os dinossauros

Ainda que eu saiba que
Todos os dias é um vai-e-vem e que a
Vida possa parecer repetida na estação,
com gente que chega pra ficar
e gente que vai pra nunca mais (voltar)

Ainda que vivos queiram ir
E ainda que alguns que já se foram não quisessem partir;
Mesmo assim tem gente que veio só olhar;
gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir
são só dois lados
Da mesma viagem

Percebo que a linha do horizonte me distrai:
e dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Mas aonde está você agora, além daqui dentro de mim?

Eu é que brinco acreditando que
Foi só o tempo que errou e que
Vai ser difícil sem você,
Porque você está comigo o tempo todo

Mas aí, vejo o mar e
existe algo que diz:
- A vida continua e se entregar é uma bobagem

Então, finalmente aprendo que
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar

Assim, percebo que olhar só prá dentro
É o maior desperdício
Quando na verdade o amor pode estar
bem Do nosso lado...

Pois o amor é o calor
Que aquece a alma
e tem sabor prá quem bebe
a sua água...


Só vitória, no Deus que fez tudo pensando em nós, com o amor que aquece nossa alma; que nos faz acreditar que a vida realmente pode ser muito melhor, mesmo sendo cada dia um vai-e-vem onde os eternos aprendizes se esfrorçam em viver – olhar só para dentro é o maior desperdício mesmo, a não ser que enxerguemos o Reino dele Dentro de nós (Lc 17,21)...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DeSpReCoNcEiTe-Se!

É mais do que normal. Não deveria ser, é verdade. Mas é. Primeiro dia de aula, principalmente em escola nova. Lá estão os educandos mal educados a se entreolharem e por dentro (às vezes para fora também) dizerem: Roberto é um “cara” bem legal, já Julia tem “carinha” de insuportável; Mariana é puxa-saco do professor e o Carlinhos é “mó Nerd”.

Enfim, pré-conceituar está no sangue, seja no bom ou no ruim (Ih! Preconceituei!). É assim quando alguém novo chega a nossa empresa ou quando chegamos a uma empresa nova. É assim quando conhecemos a família da nossa namorada ou os amigos dela.

Preconceituamos pessoas, locais, textos, trabalhos, obras, situações, tudo. Vejam só: o próprio neologismo verbal “ preconceituar” (juntamente escrito) e todas as suas conjugações (preconceitue, preconceituei etc) podem estar sendo, neste exato momento, preconceituado por algum leitor cheio de preconceito linguístico.

Isso explica o fato de muitos simplesmente nos odiarem, sem nem sabermos direito o porquê. Explica, todavia não justifica, a atitude medíocre de quem despreza sem conhecer, de quem ignora sem se aprofundar, de quem se afasta sem se aproximar.

É óbvio que não necessitamos nos aproximar do esgoto para saber que ele não produz um odor agradabilíssimo. No entanto, sabemos que aquele odor não nos é aconchegante porque temos olfato. Mas só conseguimos dizer, verbalizar e expressar o que realmente sentimos em relação a tal sensação, porque foi nos dado tal conhecimento acerca delas e dos cheiros.

Despreconceituar não significa não poder ter uma opinião sobre tudo, mas sim entender algumas coisas básicas como: 1º não temos o conhecimento acerca de tudo, nem nunca teremos – aqueles que acham possuir isso, são pessoas chatíssimas de se aturar; 2º ter uma opinião formada sobre tudo é ser mentiroso, chato, velho. Não só pelo fato de ser sobre “tudo”, mas por ser ela “formada”.

Tudo o que já vem pronto, formado, a priori, dificilmente termina como uma análise correta. O leitor que se debruça ao texto bíblico por exemplo, dotado de suas crenças mitológicas e conhecimentos filosóficos, dificilmente acreditará em alguma coisa que requeira fé.

Enfim, se despreconceitue! A vida ao seu redor agradece...

Graças ao Cristo que sem preconceito algum nos amou antes mesmo de nos formar e por ser Ele o único, que mesmo tendo uma opinião formada sobre tudo, escolheu nos amar mesmo assim...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Onde Deus está?

Andam dizendo por aí, já faz muito tempo, que Deus está aqui ou acolá, dentro da igreja tal, falando aqui e ali; usando alguém aqui e também lá.

Dizem ainda que Deus não fala com quem usa roupa branca, ou que só fala com os que usam; que Deus não está com quem usa brinco muito grande e colorido, calça corsário, cordão e tornezeleira. Para estes, Deus também não está com aqueles que gritam gol para o seu time – ou melhor – Deus sequer pode estar com aqueles que afirmam ter um time.

Deus não está também com quem vai à praia, canta, dança e assiste televisão. Deus não está também com quem vai ao cinema, ao teatro, ao shopping ou à malhação. Ele não está na casa de quem come carne de porco, bebe vinho, ouve Roberto Carlos ou hip hop; Ele não está com quem dorme sem camisa ou vê o sexo como prazer e não obrigação de procriação.

Mas se a proposta era falar onde Deus poderia estar e não o contrário, surge a dúvida natural: será que sobrou algum lugar para Ele estar?

É óbvio, respondem estes: Deus está nas Igrejas. Mas não em qualquer uma. Ele está nas Igrejas Evangélicas; e de preferência nas ditas pentecostais. Deus está ali dentro, preso apenas aos fiéis que oram tanto ao ponto de fazer com que Ele os ouça por merecimento.

Deus está apenas nos cultos que acabam sempre depois da hora, porque o Espírito assim quis. Ele está nas reuniões barulhentas, ainda que sem sentido; nas reuniões de obreiros sem pauta; nos púlpitos onde qualquer um prega o que quiser; nas mensagens sem nenhuma mensagem, nas palavras sem Palavra.

É claro que com simplórios 26 anos de idade fica um tanto quanto complicado para nós dizermos onde Deus está. Todavia, podemos prospectar perscrutando a Palavra que O revela a nós, simples mortais, onde Ele de fato possa habitar.

Assim, Deus está com aqueles que amam a Ele acima de todas as coisas e ao próximo como a si próprio. Deus está com aqueles que o adoram em Espírito e em verdade, independente de onde estejam, do que vistam, do que comam, do que falem, se há verdade, há Espírito, há adoração, há Deus.

Deus está no meio daqueles que acreditam que Ele possa estar; está dentro daqueles que não resistiram à suavidade de seu Espírito.

Deus está no que não é idólatra, nem faccioso, mas que ama. Está sobre aqueles que nele esperam e confiam, independente se são brancos, negros, ricos ou pobres. Está naqueles que fazem o bem, olhando a quem, não por pré-conceito, mas por entenderem que amar sem olhar, não é amar – é fazer número para religiosos verem.

Deus está nas pequenas coisas, mas nas grandes também; nos gestos singelos e quase esquecidos, mas que quem precisa ver, enxerga. Está na mensagem verdadeira que sai de sua Palavra, pela boca de quem a transmite com amor e dedicação, ousadia, fé e certeza de que algo de sensacional ocorrerá naqueles que a ouvirem. Esses “transmissores” podem ser espíritas para uns, crentes para outros e até mesmo diferentes, estranhos, religiosos para a maioria. Todavia, o que torna Deus presente em alguém depende infinitamente mais dEle do que do “alguém”. É imerecimento total. É desprendimento absoluto. É o desejar dEle e só! Pouquíssimo ou quase nada nosso. Assim que o “nosso” não deve ser entendido como imprescindível para que aí e só aí, como que um resultado natural Deus então interviesse em minha vida. Não! O querer é dEle – e assim Ele está nos lugares onde poucos procuram, onde quase ninguém enxerga, onde muitos duvidam, onde outros jamais iriam e onde a maioria dos que se dizem religiosos sequer cogita.

Onde Deus está? No coração, na vida, na alma e no sorriso daqueles que continuam acreditando que a vida pode (e é) ser maravilhosa! Está em cada novo nascimento diário que ocorre. Está em cada perdão que é concedido depois de muito esforço interno. Está em cada mão que levanta o caído e em que cada dedo de acusação que se abaixa.

Deus está no próximo, no outro, no mais distante e diferente ser que eu sequer possa imaginar que saiba até mesmo quem Deus é. Mas tenha certeza: ali também Deus está! Porque Ele conhece o meu deitar e o meu levantar de longe entendes o meu pensamento. Não havendo ainda nenhuma palavra na minha língua, Ele contudo já a conhece. . Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao Céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar; até ali tua mão me guiará e a tua destra me sustentará. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa; Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia. (Sl 139)

Enfim, se eu amo, Deus verdadeiramente está em mim.