sexta-feira, 17 de abril de 2009

Muros e mãos

Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante mim (Is 49,16).

Alguns dizem por aí que sabem ler nossas mãos e que elas possuem a linha da vida, do amor, do sucesso etc. O que se sabe de concreto é que todos nós possuímos marcas em nossas mãos; sejam aquelas colocadas pelo criador – que comporão as nossas digitais – sejam aquelas provocadas por um ferimento de trabalho, por uma queimadura, pelo tempo, pela água, pelo sol. Enfim, marcas que também nos diferenciarão dos outros. Gravações estas que, antes de nos rotularem e nos fazerem sermos tidos por bonitos, feios, conhecidos ou olvidados, nos tornam completamente únicos.

Será esta nossa pessoalidade, a responsável principal por nos sentirmos tão atraídos pelos outros iguais-diferentes que nos circundam. E será ela também, a grande responsável pelas nossas características específicas – o que nos fará, no máximo, muito parecido com nossos pais, com algum tio ou ainda tendo as mesmas características de amigos, mas ainda assim, por todas essas marcas, completamente únicos e só superficialmente iguais a qualquer outro.

O fato aparentemente idiota e sem nenhuma importância de que não existe sequer uma pessoa no mundo igual a nós, na verdade é extremamente revelador no que tange a exteriorizar essa nossa unicidade pessoal.

A profundidade de toda essa marca se tornará mais vívida ainda, no texto de Isaías. Nesta simples assertiva, o profeta parece perscrutar o mar das revelações do ser divino e nos fornecer uma profunda idéia acerca do cuidado de dele por nós. Estarmos marcados (gravados) nas mãos de Deus é fazer parte da identidade divina e de sua natureza. É entender que temos o privilégio e ao mesmo tempo a responsabilidade de sermos a marca de Deus na terra. É regozijarmos por saber que nossa existência e vida são o resultado da manifestação clara do amor de Deus pelas suas criaturas.

E o que poderíamos falar sobre os muros? O que são muros? O dicionário os definirá como uma parede que cerca um recinto ou separa um local do outro. A definição hodierna porém, carrega a palavra de um significado mais voltado para a proteção e a defesa. Afinal de contas, os muros hoje servem muito mais para proteger do perigo real e imediato; seja com arame farpado em cima, seja com cacos de vidro, ou ainda com cercas elétricas e entre portões automáticos – tudo em prol da tal da segurança, ainda que em detrimento de qualquer outro conceito estilístico; muros que fazem apartamentos e casas parecerem verdadeiras prisões, numa paz que assim mais parece medo.

Todavia, a analogia bíblica citada por Isaías busca ressaltar, assim acredita esta pretensão exegética, o nosso limite – ou o popular – “até onde nós vamos”. Se utilizando da idéia conceitual originária de “muros”- como algo que serve primariamente para delimitar espaços e territórios – entendemos que Deus busca assegurar a Isaías de que sabe de-ta-lha-da-men-te não só até onde vamos, mas também, onde e em que estão as nossas defesas. Ter os “nossos” muros continuamente diante dele, significa certeza de proteção daquele que garante conhecer todos os meus caminhos, todas as minhas palavras, todos os meus atos (Sl 139).

O mais sensacional de todo este bate-papo com Isaías, é que esta certeza de que Deus está no controle de tudo e em todos os nossos passos sempre, não deve nem deveria servir como alguma ameaça ou medo, desespero, preocupação, mas sim, como uma palavra de consolo; no sentido de que até mesmo se a nossa própria mãe viesse a se esquecer de nós, o Senhor, todavia, jamais se esquecerá (Is 49,15).

Esta dupla certeza - da segurança e do controle de Deus sobre nós – não significa a exclusão de problemas ou de situações desagradáveis que enfrentamos, até porque algumas muitas destas amarguras da vida, só existem com o intuito de nos forjar para o tempo oportuno de paz (Is 38,17). Entretanto, ter a Deus como aquele que nos dirige e cuida, é sobremaneira maravilhoso.

Só vitória nesse Deus que nos cerca, conhece o nosso coração, prova-nos e conhece os nossos pensamentos; e vê se há em nós algum caminho mau, guiando-nos pelo caminho eterno.

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