quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dai de graça o que pela Graça recebestes

Dois dias atrás, postei aqui uma mea culpa, sobre não ter podido parar para falar algo com duas jovens senhoras que, como cachorras, engatinhavam arriando uma oferenda com velas, cachaças e algo mais, proferindo palavras repetidas a uma entidade do candomblé. Isso aconteceu comigo no dia 13 último. No dia seguinte ao fato (14), indo embora para minha casa, após sair da minha noiva, fui interpelado por alguém que pedia ajuda.

Esse alguém, que terá seu nome aqui preservado, me pediu para que eu voltasse até a casa de sua esposa para ver se eu podia atestar que ali estava tudo bem, pois havia acabado de acontecer uma daquelas discussões de casal – só que essa, ao que tudo indicava, havia sido um pouco mais nervosa do que o razoavelmente aceitável.

Voltei prontamente e conversei com minha noiva sobre o ocorrido e como poderíamos intervir, sem sermos tachados por intrometidos. Enfim, não precisamos muito ficar na dúvida, pois a situação se tornou insuportável, tendo em vista que a pessoa em questão começou a gritar e gritar. Fomos – eu, minha noiva e minha sogra ajudá-la.

Ali, tarde da noite, a cena que vimos foi a de uma mulher desesperada. Possuidora de uma bela casa, com uma linda sala, com uma gigantesca televisão – a maior que pessoalmente eu já havia visto na casa de alguém – ela havia se jogado no chão, berrado, olhos fechados, desespero latente. Seu filhinho, como que um anjo, dormia quieto no andar de cima.

Após tentarmos acalmá-la com palavras normais, oferecemos a ela a única coisa que possuíamos de valor e solução – o amor de Deus em nós (At 3,4-6). E após orarmos, pudemos ver que realmente ela começava a voltar a si e se acalmar. O amor havia vencido mais uma vez. Vencido a barreira da arrogância e da soberba daquela que sempre achou não precisar de mais ninguém. Havia vencido ainda a incredulidade daquela que acreditava em tudo o que lhe diziam e assim, verdadeiramente, não acreditava em nada. O amor havia me lembrado, que apesar de às vezes não nos darmos conta do que pedimos ou pensamos e até mesmo esquecermos do que falamos, o Deus de paz está sempre presente – e aquela oportunidade ali estava sendo, 24 horas depois, o meu abraço de amor a uma alma carente da paz de Cristo. Eu estava ali, orando e abraçando aquela vida DESgraçada, com o prazer de quem abraça a um pai que tanto ama. Aquela chance reclamada no dia anterior, estava sendo ali, ainda que em outra pessoa, resolvida. Aquela oportunidade havia aberto as portas para a Graça.

Todavia, apesar de nobre e inesquecível momento de libertação – pois onde está o Espírito de Deus há liberdade (II Co 3,17) – mesmo assim a deixou livre para decidir seguir o que quisesse. Se foi apenas uma dor de barriga momentânea que a fez aceitar a paz que excede todo o entendimento humano; se ela preferir ficar pulando de galho em galho, tendo que enfumaçar sua casa com velas e mais velas, tendo que encher vários copos com água em lugares altos; ou ainda ler manuais para aprender como ser um espírito iluminado, isso tudo caberá a ela.

O importante porém, é termos a certeza de que a deixamos ciente sobre o amor que Deus dedicou a ela; a deixamos ciente de que no meio dela esteve alguém em nome desse amor (Ez 2,5). O imprescindível e digno de registro é que pudemos nos sentir Igreja com I maiúsculo e não apenas freqüentadores de templos. O gostoso foi que nos aproximamos, amamos ao próximo como a nós mesmos; atentamos para a multidão sem nos preocuparmos com que iriam achar; nos achegamos sem pedras de juízo ou carregados de pré-conceito. Só tínhamos a intenção de amá-la, porque era muito bom para nós fazermos isso!

O que mais tenho para dizer? Nada. Apenas testificar sobre esse amor que continua a romper as barreiras afim de que todos sejam convergidos a Deus, através do Filho. Essa é, indubitavelmente, a maior revolução de todos os tempos. Fazer, apenas através do amor, com que homens, até então sem nenhuma expectativa de existência, conseguissem sonhar em ter uma vida de verdade, até então inimaginável. Tem algo mais cheio de graça do que isso?!

Só vitória nesse Cristo – o eterno que se limitou até nós, com o único intuito de nos fazer experimentar o dom da eternidade. Isso é Graça e de graça! O resto é balela com invólucro de cristianismo...

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