terça-feira, 21 de abril de 2009

TODAS, ESTAS

Na parte final do sermão mais famoso de Cristo – o da montanha (ou monte) – proferido diante de uma multidão (Mt 5-7), Jesus faz uma alusão às questões de ansiedade que tanto afligiam e continuam ainda afligir aos homens – a sobrevivência, especificada no comer, no beber e no vestir. Ao acabar de falar sobre estas situações, que poderíamos chamar de necessidades básicas do ser humano, o Mestre diz que se buscarmos prioritariamente a sua verdade e sua Palavra (o seu Reino e sua Justiça), enfim, se O buscarmos, TODAS ESTAS coisas mos seriam acrescentadas (Mt 6,33). Mas porque um texto tão glorioso é tão mal interpretado e difundido de forma tão bisonha e por muitos com má fé, para venderem uma prosperidade rica em pobreza? Talvez o problema esteja no tal do português. Será? Vejamos:

TODAS é pronome indefinido, podendo ser também um adjetivo feminino de todo. Entendido como pronome, será indefinido por se tratar de qualquer, podendo ser ao mesmo tempo entendido como cada parte de um todo. Fato é porém, que todo ou toda, sem nenhum conectivo, fica simplesmente indefinido, podendo ser relacionado com tudo ou com qualquer parte. Assim que, quando digo “eu tenho tudo”, esse tudo pode ser uma, duas, três ou várias coisas, objetos, desejos etc. Ou seja, o TUDO pode não ser TUDO, no sentido de que não necessariamente eu queira afirmar que tenho TUDO o que existe no mundo para se ter.

Todavia, se eu digo que possuo ESTAS coisas, das duas uma: ou disse algo antes e por isso estou relacionando este pronome ao que falei; ou demonstro com um olhar, um dedo, enfim, um gesto, as tais (ESTAS) coisas que eu afirmo possuir; numa vez que esta, feminino de este, vai ser pronome e adjetivo demonstrativo, usado para designar pessoa ou coisa de que está próximo de quem fala.

Desta forma, quando leio atentamente o versículo de Mateus, entendo que Cristo está atrelando a busca sincera à sua presença com a garantia dos direitos fundamentais do Cristão – direitos da Graça é claro e não por merecimento e justiça – direitos esses que se relacionam ao fato de Deus garantir, que por amor incondicional nos manterá comendo, bebendo e vestindo. Note bem: não há nenhuma referência a nada além disso, pelo menos não aqui, neste versículo.

Isso não significa que não posamos querer ter carro, casa ou algo mais. Contudo, significa sim que aqui, neste trecho das Escrituras, Cristo NÃO está falando nada sobre isso e sim que não devemos nos preocupar em estarmos ansiosos pelo comer, pelo beber ou pelo vestir. Pois se até as aves do céu, que não trabalham semeando nem colhendo, têm o que comer, e os lírios do campo, que hoje existem e amanhã não, são mais belos que toda a pompa de Salomão, porque devemos nos preocupar com quaisquer destas coisas? Até mesmo porque, qual de nós, por mais ansioso que esteja, consegue acrescentar algo a sua própria vida? Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã.

Só vitória no Cristo que nos manda lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós; com um jugo suave e com leve fardo. (Mt 11,30/ I Pe 5,7).


Nenhum comentário:

Postar um comentário