quarta-feira, 15 de abril de 2009

Não conversamos mais

No último sábado, após mais uma aula no seminário, fui a um aniversário. Antes porém, dentro do ônibus, um inusitado fato veio a ocorrer comigo – logo comigo. Um senhor, completamente trêbado, veio se sentar ao meu lado.

Ele estava acompanhado de sua esposa, que havia se sentado alguns bancos à frente. O lugar mais próximo que ele conseguiu enxergar foi ao meu lado. Digo “enxergar” porque ele já havia tentado se sentar em outro banco – que só estava vazio por estar completamente sujo – sendo impedido por outros passageiros que o gritaram, rindo dele.

Depois de decididamente se sentar ao meu lado, passaram-se poucos instantes até que ele começasse a falar, meio que sem direção e para ninguém – você já reparou o quanto isso ocorre dentro das conduções? O quanto pessoas, até então completamente desconhecidas a nós, começam, aparentemente do nada, a falar sem parar, como que querendo puxar a atenção, como que externando um profundo desejo intrínseco de serem observadas e acolhidas? São pessoas das mais variadas, que excluindo aqueles que porventura queiram te vender algo, são simples seres completamente carentes.
Não demorou muito para que ele se virasse para mim e pedisse desculpas por estar falando comigo, mesmo sem me conhecer. Repliquei suas desculpas aglutinadas de dúvidas – afinal, ele havia perguntado se “poderia falar” – dizendo que a Constituição lhe concedia o direito de falar sim.

A gratidão daquele senhor, pelo simples fato de poder falar comigo e ainda mais pelo fato de ter sido ouvido e ainda ter dialogado – afinal de contas eu também lhe falava – parecia para ele como algo de outro planeta.

Ele falava sobre coisas que possuía – dinheiro, empresa, carro etc... um homem poderoso, ainda que somente no imaginário dele – talvez eu nunca saiba a verdade sobre isso. Sei porém, que ele poderia até ter muito ou quase tudo disso, mas que não possuía uma coisa simples: alguém – ainda que desconhecido – para lhe dar atenção.

Sua carência era tanta que suas palavras se repetiam; queria apertar a minha mão e já havia se desculpado pelo menos duas vezes por ter começado a me falar do “nada”. Sua falta de tato era tão precária que ali, em poucos minutos, para um desconhecido, ele falou até mesmo sobre seu filho e revelou até mesmo o seu nome – o dele Álvaro, o do filho, Wagner. Todavia, nada evidenciou tanto a sua carência – claramente mais aflorada por causa do álcool – que o fato de ter me agradecido, quando eu fui saltar, por ter conversado com ele.

Talvez você nem se lembre da última vez em que te agradeceram por causa de uma conversa; ou ainda, não consiga se recordar, mesmo com muito esforço, de um momento de um papo espontâneo, sem ter sido previamente marcado para a resolução de um problema na empresa; sem ter sido mais uma de tantas discussões de relacionamento; sem ter sido algo pré-agendado e na maioria das vezes de consequências de cartas mais do que marcadas. Agora, se você se lembra de bons papos, bem aventurado és tu! Pois cheguei a conclusão de que simplesmente não conversamos mais. Pelo menos não desse jeito tresloucado, sem falácias e verborréias; conversas realizadas pelo simples prazer de se olhar nos olhos e sorrir sem culpa. Isso tem se tornado cada vez mais utópico e escasso.

Assim, como diz o Balero, ainda que seja por um telegrama “nego”, sinta-se feliz, porque no mundo tem alguém que diz, que muito te ama; que tanto te ama; que muito tanto te ama...

Só vitória por causa dessa inexplicável graça, que nos faz gostar tanto das coisas mais simples, e justamente por isso, mais raras e especiais, como uma boa conversa...

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