sexta-feira, 10 de abril de 2009

CARNE VERMELHA: Comer ou não comer – eis a questão...

Ah se todos verdadeiramente se preocupassem com o que interessa...

Hoje é a famosa sexta-feira santa cristã. Que maravilha! Mas será mesmo uma santa sexta-feira, Batman? O foco principal do feriadão, além de promover vários kilômetros de engarrafamento em quase todas as rodovias desse Brasil – cada vez mais religioso e menos cristão – e também de quadruplicar o lucro das peixarias e das vendas de caixas de bombom (quem não gosta de uma??) e ovos de páscoa, parece estar "preso" em uma tradição proibitiva: NÃO COMER CARNE VERMELHA.

Mas o que tem a carne vermelha com a santificação da sexta-feira? E o que me torna assim tão herege ao comer bife de alcatra neste dia? A referente tradição remete à lembrança de que numa sexta-feira longínqua, morria crucificado na cruz do calvário, Jesus Cristo; dando assim sua própria carne (vida) por nós. Sendo desonrosamente exposto como maldito num madeiro. Coroado com espinhos que o faziam sangrar sobre o corpo já nu e ferido pelos soldados romanos, pelos cuspes, tapas e chicotadas. Com a alma angustiada pela solidão e ofensa daqueles que, como nós, não sabiam o que faziam.

Desta forma, o fato de não se comer carne vermelha, busca evocar a um respeito honroso pelo Mestre. É como se fosse assim: Cristo morreu numa sexta-feira. Da mesma forma, nesse “mesmo dia”, os “cristãos” lembram de tal fato e em homenagem, respeito e como memorial de fé, se privam de comer a tal carne vermelha.

Até aí nada de mais – até porque cada um faz o que bem entender com o corpo e a vida que Deus lhe deu, ciente apenas de que tudo me é lícito, mas nem tudo me convém (I Co 10,23). De forma que, se para uns o comer carne vermelha traduz falta de respeito ou destemor ao evento “crucificação”, para outros pode ser – e assim é – que não represente nada o comer ou beber. Fato é que fomos chamados à liberdade e que saibamos usá-la em amor (Gl 5,13).

Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (I Co 10,31). Até porque, não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos se não comermos, e nada ganharemos se comermos (I Co 8,8). Assim é que um come de tudo, enquanto outros (mais fracos na fé) acham que só podem comer algumas coisas. Mas que quem coma não despreze ao que não come e vice versa (Rm 14,2-3), pelo simples, porém importante fato, de que o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo e aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. E a fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Porque Bem aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova (Rm 14,17-22).

Assim, que me é permitido não comer carne nesta sexta-feira, em lembrança, respeito e honra à crucificação de Cristo, ou seja lá ao que for. Todavia, me é tão santo ou permitido churrasquear. O que não me convém, apesar de ser-me lícito, é amar fingidamente no ano inteiro e passar 24 horas de um dia como qualquer outro sem comer um pedaço de boi. O que não se deve, mas se faz, é pensar que o bacalhau possa encobrir a minha multidão de pecados cometidos em todos os outros dias do ano. O que é ridículo, infantil e néscio, é se preocupar mais com o exterior do que com o interior.

Só vitória naquele que nos permite comer o que quisermos, onde e quando quisermos; pois muito mais importa que rasguemos o nosso coração e não que o exterior apareça (Joel 2,13).

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