quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DIÁLOGO DE CEGOS

- Mas eu continuo sem entender zé Bento, o que pode haver de bão num ônibus lotado, com um tantão de gente suada, pisão no meu pé e eu chegando todo amarrotado no meu trabaio e ainda por cima, vinte minutos atrasado?

- Seu trabaio ué!

- Como assim meu trabaio espertinho? Se eu não tivesse o trabaio!?

- Aí ocê não se amarrotaria trouxa...

- Mas aí eu taria era desempregado né!

- Mas é ocê que disse que acha ruim trabaiá.

- Eu num disse isso. Disse que num gosto de chegar amarrotado, suado e cansado no meu sirviçu.

- Ora, então vai andando uai!

- Mas cumé q’eu vô andando!? Moro longe dimais da joça do trabaio zé! Ocê sabe disso.

- Então mora perto; que aí ocê pode ir andando bem lentamente. Num chega atrasado, nem suado, nem amarrotado e ainda emagrece – que ocê ta precisando um pouquinho né...

- Mas como q eu vou fazer pra morar perto? As coisas não são assim rápidas – quem vai querer comprar minha casa?

- Estou tentando primeiramente resolver o problema do seu trabaio e não da sua casa – será que dá pra esperar – resolver uma coisa de cada vez?

- Ta bom zé Bento. Mas tem mais um porém.

- Diga.

- De apé eu posso pegar chuva e chegar todo moiado no sirviçu.

- E você não conhece o tal de guarda-chuva que criaram já faz séulos?

- Mas eu num tenho guarda-chuva.

- Ora, com o dinheiro que você não vai gastar nas conduções, compre uma sombrinha pra ocê e pronto...

- Ih... acho que isso vai dar muito trabaio. Acho melhor mesmo é sair do trabaio, continuar morando no mesmo lugar e nem gastar com passagem, nem guarda-chuva.

- É florêncio... talvez seja melhor isso mesmo – assim nós continua morando perto. Mas me diz uma coisa.

- Fala Bento.

- Se Ocê num trabalhar, como é que vai comer?

- Era essa a pergunta que eu iria fazer pro’cê – que vê sempre algo bom em tudo – aí pensei: nem preciso perguntar pro zé: creio que o Bento fará questão de me alimentá...

- Tenho que admitir Florêncio: é ocê que sempre vê algo bom em tudo...

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