quinta-feira, 30 de abril de 2009

Minha sogra e a gripe...

Minha sogra me pediu ontem à noite, que o artigo de hoje fosse a tal gripe suína, que alguns têm chamado de mexicana – e que, independente da nacionalidade do porco, tem ocupado as manchetes dos jornais e sido figura fácil nos noticiários televisivos do mundo inteiro. Então lá vai...

Pensei no que poderia comentar sobre o assunto e descartei logo de início falar sobre o viés técnico da tal quase pandemia. Além de ser bem trabalhoso ir por este caminho, não achei que fosse ser muito interessante. Comentar também sobre o número de casos suspeitos e de mortes já confirmadas, além da chegada do desespero ao Brasil, seria bem triste e trágico. Decidi falar então sobre a alegria de uns em meio a total desgraça de outros; de moda e de economia – acho que é isso.

Sabemos que o México – principal país envolvido nessa “questão suína”, tem aparecido em todo o mundo e já é normal associar os mexicanos àquelas máscaras estilo Michael Jackson. Notei aqui dois detalhes: 1º) as farmácias que as vendem e principalmente as fábricas das tais máscaras têm ficado muito felizes e com mais dinheiro. 2º) daqui a pouco inventarão algumas mais estilosas do que as tão simplórias de cor azul. Que tal combinando com as roupas, ou modelos mais divertidos com o desenho da boca; ou ainda com o escudo do meu time favorito, a foto do presidente ou o logo de uma marca famosa – máscaras CK, já imaginou?

Fato é que assim estamos e assim sempre fomos. Enquanto uns choram e contam seus mortos, outros riem e ganham com isso. O trágico ciclo da lei da oferta e procura pode até não fazer com que as tais máscaras fiquem personalizadas, mas que logo logo, persistindo a tal gripe, os preços aumentarão - isso sim.

Da mesma forma que em meio a guerra que mata milhões e esfacela famílias inteiras, que nem têm tempo de chorar suas perdas, existe em contrapartida empresários e traficantes de armas muito felizes – pois são com os seus “brinquedos” que a matança é possível. E o governo? Assim como no caso dos cigarros, muita campanha televisiva de fachada, mas muita alegria com os impostos arrecadados com a indústria, tanto a bélica, quanto a das drogas legalizadas, neste caso, o cigarro.

Enquanto a guerra pode ter o custo da vida que se esvai, a paz tem o custo da não venda das armas novas, das tecnologias de ponta etc. Além disso, a guerra tem o poder de criar heróis com uma enorme facilidade, diferentemente da paz.

A situação da gripe e dos que estão circundados por ela não é tão simples. De fora, poderíamos chamar de insensato e sem coração aquele que aumentou o preço da máscara em sua farmácia por causa da enorme procura – capitalismo selvagem diríamos! Todavia, como já disseram, o mundo se divide entre aqueles que compram e aqueles que vendem. Sendo que os que vendem, sempre compram também e em não poucos casos, os que compram o fazem para vender. Isso significa apenas que vai depender do lado que estivermos para acharmos desumana ou benéfica determinada atitude em relação à gripe.

Se acabei de ficar doente ou se um dos meus familiares adoeceu e corre risco de morte, será mais do que normal achar desrespeitoso, desumano e afrontador o preço das tais máscaras subirem. Contudo, se eu sou dono da fábrica que as produz ou ainda um funcionário de uma dessas tais indústrias, que passou a ter garantido o seu emprego, pelo menos por mais um período de tempo, graças a esta inesperada epidemia; poderia chegar tranquilamente ao absurdo de proferir frases do tipo: tal gripe está sendo uma benção para mim!

Só vitória no Cristo que nos orienta a remar contra a maré de rir da desgraça alheia e tentar, ainda que difícil seja, chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram (Rm 12,15). Como se chama isso? Jesus a chamou de compaixão!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

TODO MUNDO CONHECE TODO MUNDO...

pelo menos até a página 3

Somos realmente uma caixinha de surpresa. Todos nós. A frase da vovó de que os dedos da mão não são iguais, é mais do que corroborada pelos filhos de mesmos pais e mães que são completamente diferentes. E quantas vezes achamos que conhecemos profundamente alguém com quem convivemos, seja no trabalho, seja na família, seja debaixo do nosso próprio teto? E em algum momento oportuno, vemos que a pessoa não era tudo aquilo que esperávamos, ou fez algo que nós não achávamos que conseguiria, ou ainda se voltou contra o nosso lado – que jurávamos ser o “melhor”.

Lembra do tio distante, que era tão querido pelos sobrinhos que vinham da cidade visitá-lo, mas tão aparentemente desprezado pelos seus próprios filhos? A priori, um ato de total falta de amor por parte dos próprios filhos. Todavia, para aqueles que ficavam todos os dias com ele, o conheciam não como o parente legal do fim de semana, mas como o pai bravo do dia a dia.

E os nenês hein? São lindos e maravilhosos quando visitados pelos amigos do casal, ou ainda pelos tios e tias. Mas depois, todos estes vão embora e não têm que acordar de madrugada, ou ainda nem dormir, para trocar fraldas, dar de mamá etc. E as lindinhas crianças de 5, 6, 7 anos que são lindas por 3, 4 horas - vai levar para sua casa para ver?

Fato é que quem realmente nos conhece, nos sonda, nos perscrute e sabe, de fato, quem somos, é Deus. Ele sabe que o anjinho da escola é um anjo mal em casa; que o esposo respeitoso é, na verdade, um gerente completamente pegador; que o santo pastor é um tirano que não respeita a sua própria esposa e que o padre que ouve várias confissões não confessou para ninguém que é pedófilo.

Realmente temos talvez duas opções: desconfiarmos de todo mundo e vivermos sempre com um pé atrás e com uma famosa pulga atrás da orelha – o que, na verdade, muitas pessoas fazem – e acreditem: a maioria vive carrancuda. A outra opção é ainda acreditar nas pessoas – mas cuidado com o extremo aqui também, e não confundir dar crédito, com crer em tudo e todos. Todavia, não deveríamos pré-conceituar as pessoas – embora sempre façamos isso. Que tal darmos tempo, paciência e oportunidade a todos. Assim e só assim, o joio aparecerá no meio do trigo...

Só vitória no Cristo que nos dá crédito sempre!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Salmo 51

Não é muito difícil de se ver, independente da religião que professe, pessoas que tenham livretos com os salmos bíblicos, ou até mesmo que pratiquem a leitura desses diariamente. Alguns não poucos inclusive, têm seus salmos prediletos e de leitura quase que obrigatória. Outros os tratam como antídotos para horas específicas e assim temos os “salmos exorcistas”, dos quais o 91 é disparado o mais famoso. E nessa leva, temos os campeões de audiência da fama: o indispensável 23; o não menos famoso 125; outros preferem o 40 ou ainda o 46, e porque não o primeiro? Para os que já me conhecem e ouviram de mim sobre os salmos, sabem que o meu preferido é, indiscutivelmente, o 51 – e é sobre uma pequena parte dele que quero apenas dar uma pincelada hoje, ok?

Esta verdadeira obra de arte faz transbordar os mais recônditos caminhos da alma de Davi. Todavia, não começarei pelo começo desse caminho – outro dia o farei – mas quero citar o verso 10: “Cria em mim ó Deus um coração puro e renova em mim um espírito inabalável”. Em outro momento falaremos sobre a história deste Salmo e tudo mais. Porém, independente de lermos qualquer outra parte desta obra prima da literatura mundial, fiquemos apenas com a primeira destas duas orações.

Sabemos que Deus, como criador, é aquele que faz surgir as coisas “do nada” (ex-nihilo) como já nos garante o Gênesis (1,1). Isso significa que ao criar, Deus não precisa de matéria prima pré-existente, pois ele simplesmente faz surgir o que lhe convier. O genial da grandiosidade da humilhação e da consternação sem preocupação de imagem do simples Davi, é que seu estágio de pesar e arrependimento é tão imenso que ele se sente sem vida.

É claro que Davi não tem a preocupação de elaborar um tratado teológico sobre o perdão – não, isso não. Ele está simplesmente deixando com que sua alma fale. E ela tem muito o que dizer. E o “falar” para Davi é consolador e curativo. Mas mesmo que ele não elabore teologia, sua alma contudo, o faz ainda que indiretamente. E assim podemos inferir que ele não quisesse apenas um reparo de Deus ou um ajuste. Davi está se sentindo sem vida e por isso clama a Deus: “Senhor, preciso ter um coração novamente. E um coração que seja verdadeiramente puro!”.

Davi está sem vida, porque sua vida está sem pureza. Sua alma foi atingida. Seu ser já não é mais o mesmo. Seus feitos heróicos mais de nada valem a ele – se é que algum dia ele tenha se importado com isso. Todavia, ainda que ninguém consiga enxergar a dor que ele está sentindo e vendo talvez a vergonha interna que ele tenha, importa para ele que haja cura e criação. Mesmo que ninguém saiba. Ele – Davi sabe, e mais ainda – seu Deus, o Senhor, sabe!

Aqui, vemos o clamor de um Rei que queria ser simplesmente um servo do Deus altíssimo e por isso o Deus altíssimo o fez ser segundo o seu coração. É esse rei, moldado e forjado pelas fornalhas do oleiro detalhista de Israel, que vai ser gigante ainda que franzino e que vai ser pequeno, ainda que muitos o achassem grande. Ele era o monarca para todos, mas para ele, bem no cerne de seu espírito, sabia prontamente de que nada mais era do que um colaborador do reino – e como era maravilhosamente indescritível para ele, ser apenas isso!

Faltava-lhe porém, novamente olhar com os olhos de Deus e para as coisas de Deus. Faltava-lhe ter de volta a alegria de se sentir com o “sentir” de Deus. Faltava-lhe vida. Faltava-lhe coração. Só não lhe faltava a coragem e a honradez de se humilhar diante de seu Deus, com estas contritas e mais do que sinceras palavras. Deus só “podia” lhe atender. Davi, acabara de ganhar o coração de Deus – se é que algum dia havia perdido tal lugar...

Por agora, me saboreio apenas com a leitura dessa primeira oração e como Davi peço: Cria Senhor, em mim e em qualquer pessoa que for ler isso, seja ela o que for e esteja como estiver – um coração verdadeiramente puro...

Só vitória no único Deus capaz de gerar em nós novos corações, porque tudo foi feito por Ele e sem Ele, nada do que foi feito se fez (Jo 1,3). Amém!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

“Se Deus quiser” ou “em nome de Jesus”?

Na onda pós-moderna da teologia da prosperidade e também nas asas da arrogância daqueles que dizem possuir crédito com Deus ao ponto de poderem, por merecimento, herança, ou seja lá o que for que eles creiam, exigir do criador alguma benesse; facilmente ouvimos frases do tipo “Em nome de JESUS...” farei isso ou aquilo; terei, possuirei, conquistarei, recuperarei, e tantos mais outros eis sufixados com uma tônica que traduz de forma explícita o que o âmago de muitas pessoas ocultam – a idéia de que se me mantenho fiel – seja lá como entendam isso – Deus está praticamente incumbido de me fazer o que tenho pedido; principalmente quando utilizo o seu nome – e sendo este nome poderoso (Jesus) – algo tem que acontecer.

Mas será mesmo que o simples fato da utilização do nome de Jesus garante o resultado? Note bem, que o que queremos dizer ou até mesmo questionar, não é a capacidade de eficácia que Cristo tenha ainda hoje – isso é evidente para aqueles que vivem sob a fé do evangelho de Deus. O que está em xeque aqui, é a associação livre e desenfreada de se atrelar a verbalização dessas cinco letras (J-E-S-U-S) ao imediato e obrigatório acontecimento de algo – e de preferência, muito bom – em minha vida.

Assim, surge a perguntinha básica: será que a Bíblia (ou o próprio Cristo) nos ensinou a fazer qualquer coisa em nome de Jesus ou a colocar como sendo em nome de Jesus, tudo o que eu faço? Ainda que pareça um simples trocadilho de sentenças idênticas, contudo não são. No primeiro momento estaríamos aceitando a idéia de que tudo o que devemos fazer, o devemos fazer sob o nome de Jesus – debaixo da autoridade dele – para que Ele, se assim lhe aprouver, nos auxilie na realização, nos dirija, nos guie, caso seja de sua vontade. No outro momento estamos questionando se em algum lugar fica claro que o fato de usarmos o nome de Jesus, torne qualquer atitude ou ação legalmente espiritual, correta e benéfica – independente do que seja. É como se o nome de Jesus purificasse minha ação, a tal ponto de cristianizá-la, seja ela qual fosse. Ficou claro?

É lógico que a Bíblia nos orienta a fazermos tudo em nome de Jesus (Cl 3,17) e também de que há grande poder e autoridade em seu nome (Jo 14,13; At 4,12). Todavia, em nenhuma dessas passagens, ou em nenhum outro momento, encontramos qualquer alusão a situações díspares da vontade de Deus, em que a utilização mística do nome de Jesus tenha espiritualizado tais atitudes até então equivocadas ou errôneas.

Por conseguinte, encontramos um caminho de melhor apoio e orientação nas palavras de Tiago (o irmão do Mestre) ao questionar sobre a nossa vida. Claramente ele prefere a utilização do “se Deus quiser” a “Em nome de Jesus”. “Pois não sabemos o que sucederá amanhã. O que é a nossa vida? Somos apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa... devíamos então dizer (em vez de “amanhã faremos isso ou aquilo”) – se o Senhor quiser, faremos isto ou aquilo” (Tg 4,13-15).

Apesar da expressão “em nome de Jesus” ter um caráter mais de fé e confiança no poder de Deus, em detrimento de uma falsa impressão de que o “se Deus quiser” pareça mais incrédulo e duvidoso, ainda assim prefiro esse a aquele, pelo fato de concordar com a idéia de Tiago, de que nossas pretensões são arrogantes e assim, malignas; e ainda, falseadas pela utilização exacerbada do nome de Jesus, como querendo corroborar uma autenticidade a um fato que tem no seu nascedouro um propósito equivocado e não o de glorificar a Deus.

Desta forma, enxergamos o “se Deus quiser” como um resultado latente de fé. Uma fé genuína ao ponto de entender e aceitar que, ainda que queiramos muito e por força do hábito sejamos levados a utilizar de forma eloquente o nome de Jesus – tudo só acontecerá – se acontecer – por causa que Deus quis. E fato é que nem sempre Deus quer, que tudo o que em nome de Jesus falamos, aconteça.

Não há contradição na trindade, nem desavença no ser de Deus. Há, muito pelo contrário, falta de maturidade de alguns em entender e aceitar a soberania desse Deus como infinitamente mais sensata e poderosa do que toda a nossa simplória percepção da existência. Onde estávamos quando ele fundava a Terra? Não estávamos, porque nem éramos – aqui está a soberania.

Só vitória no Cristo que sempre quer fazer em nós, muito mais além daquilo que pedimos ou pensamos (Ef 3,20)!

domingo, 26 de abril de 2009

Imitadores

Nossas reações falam realmente muito mais sobre nós do que podemos imaginar. Não há segredos que o homem tente esconder que o corpo não revele – ou seja – ainda que tentemos ocultar alguma coisa por trás de parolas e rebuscadas palavras de mortais sem nenhum rebusque, o que realmente sentimos e somos, em algum tempo, às vezes na frente de quem menos esperamos, será descortinado e teremos o nosso mais profundo e sujo interior revelado.

Pode ser que demore um pouco até que todas as máscaras caiam, mas ninguém consegue encobrir por tanto tempo e de tantas pessoas o que realmente é. Sem contar o ilustre fato de que somos big brotheriados por quem nem imaginamos – quantas vezes alguém me diz que ouviu alguém falar que me conhecia, ou que lembra de mim do tempo do colégio – enfim – pessoas de que eu nem tenho noção, de que nem lembro – não por desprezo meu ou por total soberba, mas na grande maioria por que realmente não os conheço – nunca os vi – contudo, fui olhado por eles – ou seja, observado – talvez num gesto, numa palavra, numa atitude, numa conversa com um filho deles, enfim – alguns alguens me observavam – e o melhor (ou seria pior?) eu nem percebi.

Digo melhor, porque talvez se tivesse percebido – talvez não, certeza absoluta – teria tentado impressioná-los e aí não teria sido autêntico, eu mesmo, com todos os meus sensacionais defeitos. Por falar neles – nos defeitos – abro aqui um parêntesis (sem parêntesis) rápido – têm coisa mais patética do que a fútil afirmação de algum famoso dando entrevista e dizendo que não se arrepende de nada do que fez e sim só do que não fez? Ah, tem sim, a jactância transviada de humildade de alguns que respondem a essas mesmas entrevistas que os seus maiores defeitos são o perfeccionismo e a cobrança interna dos erros que cometem. Ou seja, são seres que implicitamente se acham tão perfeitos ao ponto de não aceitarem que erram e até mesmo de fazerem de seus erros encubados, virtudes.

Mas porque então, mesmo sabendo que temos centenas de câmeras man ao nosso redor, fingimos e não somos? Já reparou o jogador que cai no chão e se rola, se contorce de aparente dor, coloca a mão no olho e quando você, em casa, observa o replay, de uma das 30 câmeras que “fazem” um jogo, percebe que ele nem foi tocado pelo adversário? Porque fazemos isso?

Talvez jamais consigamos explicar muito bem tal fato, porém, alguns parecem gostar tanto de ser o que não são, que acabam até mesmo acreditando que são o que nunca foram realmente. São verdadeiras mentiras ambulantes; que a partir de uma simples meia-verdade (que é sempre uma mentira completa) se sentem na necessidade de criarem um mundo ao seu redor – são mentes brilhantes de pessoas sem pessoalidade – que existem vivendo a vida de outros.

Para os imitadores de plantão, que gostam tanto de copiarem a realidade que suas férteis imaginações criaram, um bom exercício seria se imitassem a Cristo (I Co 11,1). Assim, uma vez que fosse, naturalmente observado pelos vizinhos que nos observam em todos os lugares por onde andamos, estaria indiretamente levando vida e cura de alma até essas pessoas. De modo que a nossa sombra – o reflexo de nossos passos – o refletir da nossa verdadeira vida sem máscaras e camuflagens – possa transmitir o poder gracioso de Deus, que deve existir em nós.

Só vitória nesse Jesus que faz com que meros Pedros, curem em seu nome, até mesmo sem perceber; e que suas vidas gerem vida, até mesmo sem saberem; pelo simples fato de que Cristo vive neles e isso é mais do que suficiente! (At 5,15)

sábado, 25 de abril de 2009

Antes mal acompanhado do que só?

A máxima popular de que é melhor ficar só do que em má companhia, utilizada para se referir a amizades variadas, mas principalmente no que tange aos relacionamentos amorosos, no intuito de defender o fato de ser melhor estar solteiro do que “preso” a alguém que seja uma companhia que nos trará mais malefícios do que benefícios, não é unanimidade; uma vez que temos visto não poucas vezes esse dilema ser enfrentado por inúmeras pessoas que respondem negativamente a premissa proverbial, a modificando para algo que poderia ser parafraseado como “prefiro estar com ele, mesmo ele não sendo tudo o que eu sou para ele, mas ainda assim porque é melhor do que estar sozinha”.

A solteirice é uma tônica pós-moderna latente em nosso século que apenas se inicia. Ainda que o número de casamentos continue bombando (entendendo casamentos aqui como a união entre duas pessoas, seja apenas juntando as escovas de dente sob um mesmo teto, ou oficializada em cartório) o número de separações têm triplicado; e ainda com o avanço da aceitabilidade da tal “produção independente” por parte de “mães solteiras” têm também contribuído para que tais índices de gente vivendo sozinho aumentem.

O enfrentamento íntimo porém, se torna mais forte quando aquilo que na verdade parece ser apenas uma decisão pessoal – decidir ficar sozinho ou se entrelaçar com outro ser – se evidencia cada vez mais como um rito de iniciação numa sociedade, que pede de seus pretendentes a participante, o cumprimento de algumas exigências que ela – a própria sociedade – determina como sendo imprescindíveis para a definição e nomenclatura de posição dentro da mesma.

Assim que, se tratando de alguns arraiás (plural inventado de arraial) até mesmo ditos evangélicos e desta forma espirituais, se você for, por exemplo, solteiro, em algum tempo começarão – os “donos da sociedade” – a questionarem e até mesmo te ajudarem no intuito de arrumar uma “benção” para você. Mas será que se preocupam em saber se você deseja ser solteiro. Note bem: ser solteiro não é ser sozinho, e não estar casado não é viver em profunda solidão. Assim como o estar casado não constitui necessariamente a garantia de uma companhia que seja boa.

Desta forma, como temos essa maravilha de personalidade única e exclusiva que Deus nos deu, que faz com que sejamos, no máximo, muito parecidos com alguém, ou tendo traços fortíssimos de tais e tais pessoas, mas nada além disso; caberá a nós apenas, decidirmos o que queremos. Tudo bem que você diga – caberá a Deus e não a mim – é um jeito espiritual de ver as coisas – não tem problema – fato é que algumas decisões apesar de divinas, passam pelas nossas mãos. E nessas decisões é que devemos analisar se é realmente melhor a aparente solidão tranquila ou a companhia muitas vezes solitária.

Casa cheia pode ser sinônimo de muita coisa, mas não é nem nunca foi garantia de companhia de verdade. Assim, ainda que para muitos seja preferível a companhia qualquer em detrimento de uma vida, entendemos que o melhor seja sempre a liberdade. Se há liberdade e ainda assim há o prazer de se estar acompanhado, ótimo. Caso contrário, terás apenas um par de pernas ao seu lado – que fique claro que gosto não se discute, ok?

Só vitória no Cristo que nos garante em sua Palavra viva que aquele que anda com o sábio, tornar-se-á um, mas ao companheiro dos insensatos está destinada apenas o vazio da maldade (Pv 13,20).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Existem coisas que não mudam nunca

Sabemos que um argumento é verdadeiro quando ele está embasado num padrão elevado da verdade. Todavia, a Bíblia se torna maximamente imprescindível para as nossas vidas por não ser tão somente um ensaio sobre aquilo que é verdadeiro, mas sim por revelar através de suas páginas, a expressão plena da verdade de Deus – Jesus Cristo! Devendo assim ser visualizada como a insubstituível agente edificadora dos súditos do reino – sem ela simplesmente não há vida e logo, não há de forma alguma crescimento – nem intelectual, físico ou principalmente espiritual.

Observamos que muitos livros trazem mensagens sensacionais de vida, mas só a Bíblia, impreterivelmente, nos torna discípulos do Mestre da Vida e assim, discípulos verdadeiramente livres e cheios dessa vida (Jo 8,31-32). A importância da Palavra de Deus para nós, está em sua capacidade de nos revelar quem somos, nos ensinando assim que Cristo perdoa quem eu fui, busca aperfeiçoar a cada dia quem eu sou e me molda a ser como Deus deseja! Ela é a verdade revelada pelo Espírito Santo que modifica todo ser humano, trazendo para ele a realidade do amor incondicional desse Deus eterno, que se fez limitado em Cristo, para que nós, os limitados, pudéssemos alcançar a tão desejada eternidade!

Sendo assim, a eficácia da Bíblia em nossa vida se estende também a trazer até nós a realidade sobre o Deus que até então e sem ela, só era especulado e conjeturado, mas que nela – a Palavra da verdade – é para nós descortinado, deixando de ser somente transcendente, conosco vivendo e em nós habitando. E só enxergamos esse Deus cognoscível, se deixarmos com que Cristo o revele para nós, o tornando cada vez mais imanente e real; no entanto, só veremos a Cristo se, de fato, deixarmos com que a Bíblia, através do Espírito, o deixe transparecer. Através dela nossa responsabilidade aumenta, mas também nossa culpa é totalmente perdoada e nosso futuro passa a ser fortemente desejado!

Ela se torna tão proeminente para nós e o Cristianismo do verdadeiro Cristo tão eficaz, no momento em que profeticamente, se preocupa em trazer Deus até os homens e não levar, por esforço próprio e sacerdotal, os homens até Deus! Seu grande valor ainda consiste no fato de ser ela o único livro que não se contenta em ser apenas lido, mas que também nos lê, esperando de nós um genuíno fedd-back e uma “autorização” para sermos, por ela, de fato transformados.

Sua consideração se relaciona também em nos garantir, através principalmente de suas páginas neo-testamentárias, gotejadas pelo sangue do cordeiro, que encontramos um Deus que esteve entre nós, morreu e ressuscitou por escolha própria e tudo isso, por mais incrível que possa parecer, única e exclusivamente por nossa causa – meros pecadores, mas para ele, filhos amados!

A proeminência da Palavra de Deus gravita também no que tange ao aprimoramento dessa fé genuína e salvífica. Pela observação dela, somos conduzidos e atraídos a termos uma fé diferenciada em Deus e em seus feitos de fidelidade (Hb 10,23) e poder de transformação (Jó 42,10).

Como perfeita agente educadora, ela extrai do ser humano aquilo que de fato ele é – não há pecado que diante dela se mantenha oculto e não há virtude que por ela não seja, em Cristo, exaltada. Enfim, ela continua única. Seu tema, incopiável; sua influência, incalculável – nos revelando a Cristo, nos fazendo enxergar Deus e nos ensinando a viver pela fé! Como dissemos: existem coisas que simplesmente não mudam nunca!

Só vitória nesse nosso Cristo imutável!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Salve Jorge...

e também a Aparecida, a confraternização universal, Tiradentes, carnaval; o trabalho, as mães, os pais, os namorados; as crianças, Jesus, os chocolates, a cidade do Rio de Janeiro e o Zumbi; o descobrimento, a independência, a república e os professores; o funcionário público, o comércio e a consciência negra. E salve a todos os outros mais de 300 dias de alguma coisa que o nosso calendário possui, sendo que alguns são feriados e outros apenas dia de algo. Só Jesus tem três feriados “para ele”: um para sua morte, outro para o seu nascimento e ainda outro por sua ressurreição. Afinal de contas, feriado é isso mesmo – um dia ou tempo em que se suspende o trabalho, seja por ordem civil ou religiosa.

Nesse praticamente meio mês de feriados que possuímos (cerca de 15 dias no ano inteiro, em que muitos não fazem absolutamente nada) até que não sou contra não. Mesmo porque somos o país do futebol e do carnaval – ah, e também um dos mais religiosos do mundo! Nessa onda inclusive, eu sugeriria que tivéssemos também, não apenas como dia para se memorar, mas como legítimos feriados, o dia a São José dos bodes das unhas encravadas e do Bom Samaritano; do pastor fiel e do profeta; dos atabaques da umbanda e da quimbanda, dos orixás do candomblé e da unção; da leitura da Bíblia e do alcorão, dos TJs e tantos outros mil.

Bom mesmo seria se recebêssemos para não fazer absolutamente nada e se vivêssemos apenas para sermos felizes, comendo nosso pãozinho e rindo dos espetáculos circenses que vemos diariamente. Dessa maneira, teríamos mais tempo para acharmos graça da vida que nos cerca. Teríamos futebol na TV Sábado, Domingo, Terça, Quarta e Quinta. Teríamos Copa do Mundo todos os anos e até acreditaríamos que uma Copa é um evento que gera infinitas melhorias ao nosso país, assim como o Pan trouxe ao nosso Rio (hehe). Deveríamos ter também mais shows populares no dia do trabalho e também uma semana inteira de comemoração à independência, contendo vários desfiles do nosso militarismo responsável e extremamente útil, além de pronunciamentos de generais, almirantes, brigadeiros e cajuzinhos.

Ah o carnaval, deveria ser um mês inteiro para as pessoas se fantasiarem de bichas loucas, se transverterem e se transviarem. Um mês só de desfiles luxuosos lavando o dinheiro dos caça níqueis e dos jogos ecologicamente corretos. 30 dias para os prefeitos receberem políticos de outras cidades e estados em seus camarotes com modelos lindas, esbeltas e até falantes.

E o natal hein? Ah, esse também deveria ser comemorado em pelos menos quatro ou cinco dias. Um para fazermos o nosso amigo-oculto, secreto, escondido. Mais outro dia para comprarmos as frutas da nossa ceia harmoniosa. Um outro dia para visitarmos uma penca de parentes chatos (que se tornam legais nessa época) e sermos também por eles visitado. E claro, mais um dia para os especiais televisivos e as reportagens religiosas nos lembrarem sobre o cara do feriado – as igrejas nos lembrarem de que é hora de se lembrar do Cristo e não da rabanada (UAU, rabanada!!!) e acho que tá bom.

Faço porém apenas uma ressalva e conclamo aqui o surgimento de um movimento por parte daqueles que trabalham nos feriados. Declaremos pois isso, como um ato inconstitucional! Afinal, se a enciclopédia nos diz que o feriado é um momento onde se proíbe o trabalho, como podemos trabalhar nesse dia?

E lhes garanto: não estou sendo inconstitucional, pois só escrevo por puro divertimento mesmo e não por trabalho. Trabalho não! Deus me livre!!!

Só vitória!!!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ouvindo, falando e se irando

Já de muito sabemos que o ouvir é uma arte que poucos possuem. Aqui, falamos do ouvir com atenção, com calma, valorizando o falante e o emissor da mensagem. Remetemos-nos à qualidade de se ouvir sem pretensão ou pré-conceitos. Através de uma boa “ouvida” na hora certa (da pessoa certa), poderemos aprender coisas inimagináveis; poderemos melhorar a nossa fala, nossa escrita; poderemos até mesmo decidirmos mudar de profissão, de ramo, de vida. A Bíblia diz que a fé vem inclusive, pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm 10,17). Todo homem pois, seja pronto para ouvir.

Ah, mas num mundo onde quem tem boca vai a Roma, fala o que quer e se não se comunica se trumbica – falemos! O problema é que demais, sobre tudo e todos e assim temos grandes chances de falarmos o inútil e fútil. Todos nós sabemos que a comunicação é importantíssima e que a fala é um dom exclusivo dos seres humanos. Todavia, deveríamos antes de falar, questionarmos retórica e internamente: será que é hora de dizer isso? Será que trará algo positivo isso o que eu irei falar? Será que realmente tenho certeza disso que irei dizer? E tantos outros “serás que” já muito conhecidos por nós. Até porque a palavra, a seu tempo, quão boa é – comparável as maçãs de ouro em salva de prata (Pv 15,23 e 25,11). Portanto, falemos! Todavia, na forma, no momento e no local apropriados.

A ira pode ser entendida como uma característica negativa e até mesmo pecaminosa, destinada apenas aos perversos e aos que não tenham um coração dominado pela verdade de Deus. Contudo, a Bíblia não nos corrige ou ainda busca proibir a manifestação de nossa ira, assim como também logicamente não a exalta nem a incita. É claro que a raiva exacerbada, que gera aquele desejo de vingança, é concupisciência concebida e assim pecado. Porém, preferimos acreditar em dois caminhos para a tal da ira: primeiro, que ninguém está sempre, todos os dias e 24 horas por dia, calmo, tranquilo e com domínio próprio. Todavia, não concordamos também com a idéia de que estejamos sempre e em todos os momentos com pavios curtíssimos, como homens-bombas suicidas, prontos para (por qualquer motivo grotesco) explodir. A solução, que não chega a ser nenhuma mágica de auto-ajuda, ou algum tipo de terapia ocupacional salvadora, está relacionada, acreditamos nós, à subjetividade.

Assim, conforme amadurecermos na fé e assim na vida – porque só existe vida na minha fé se existir fé na minha vida – passaremos a nos conter mais e entendermos que será sempre muito melhor para nós, “segurarmos” o nosso espírito, e termos domínio próprio.

É verdadeiramente impressionante que muitos digam ter vários dons, tais como palavra de sabedoria, interpretação de línguas, visões blábláblá e blábláblá; mas num primeiro instante de discordância, manifestam um espírito que nada tem de concordância com o Espírito de Deus. São crentes meia-boca, fajutos, forjados; que se dizem santos e não o são; que profetizam de si próprios dentro do templo e quando chegam ao estacionamento e veem seus carros sendo impedidos pelo de outros crentes, se iram com uma incrível facilidade digna de crianças mimadas. Será a pressa em assistir “Toma lá da cá”? Ou o finzinho do “Fantástico”?

Portanto meus amados irmãos, como diria o Kara mais inteligente da Bíblia (depois de Jesus): sejamos PRONTOS para OUVIR, TARDIOS para FALAR e TARDIOS para se IRAR (Tg 1,19).

Só vitória no Cristo que nos dá o HOJE, para que OUÇAMOS a sua voz SEMPRE!

terça-feira, 21 de abril de 2009

TODAS, ESTAS

Na parte final do sermão mais famoso de Cristo – o da montanha (ou monte) – proferido diante de uma multidão (Mt 5-7), Jesus faz uma alusão às questões de ansiedade que tanto afligiam e continuam ainda afligir aos homens – a sobrevivência, especificada no comer, no beber e no vestir. Ao acabar de falar sobre estas situações, que poderíamos chamar de necessidades básicas do ser humano, o Mestre diz que se buscarmos prioritariamente a sua verdade e sua Palavra (o seu Reino e sua Justiça), enfim, se O buscarmos, TODAS ESTAS coisas mos seriam acrescentadas (Mt 6,33). Mas porque um texto tão glorioso é tão mal interpretado e difundido de forma tão bisonha e por muitos com má fé, para venderem uma prosperidade rica em pobreza? Talvez o problema esteja no tal do português. Será? Vejamos:

TODAS é pronome indefinido, podendo ser também um adjetivo feminino de todo. Entendido como pronome, será indefinido por se tratar de qualquer, podendo ser ao mesmo tempo entendido como cada parte de um todo. Fato é porém, que todo ou toda, sem nenhum conectivo, fica simplesmente indefinido, podendo ser relacionado com tudo ou com qualquer parte. Assim que, quando digo “eu tenho tudo”, esse tudo pode ser uma, duas, três ou várias coisas, objetos, desejos etc. Ou seja, o TUDO pode não ser TUDO, no sentido de que não necessariamente eu queira afirmar que tenho TUDO o que existe no mundo para se ter.

Todavia, se eu digo que possuo ESTAS coisas, das duas uma: ou disse algo antes e por isso estou relacionando este pronome ao que falei; ou demonstro com um olhar, um dedo, enfim, um gesto, as tais (ESTAS) coisas que eu afirmo possuir; numa vez que esta, feminino de este, vai ser pronome e adjetivo demonstrativo, usado para designar pessoa ou coisa de que está próximo de quem fala.

Desta forma, quando leio atentamente o versículo de Mateus, entendo que Cristo está atrelando a busca sincera à sua presença com a garantia dos direitos fundamentais do Cristão – direitos da Graça é claro e não por merecimento e justiça – direitos esses que se relacionam ao fato de Deus garantir, que por amor incondicional nos manterá comendo, bebendo e vestindo. Note bem: não há nenhuma referência a nada além disso, pelo menos não aqui, neste versículo.

Isso não significa que não posamos querer ter carro, casa ou algo mais. Contudo, significa sim que aqui, neste trecho das Escrituras, Cristo NÃO está falando nada sobre isso e sim que não devemos nos preocupar em estarmos ansiosos pelo comer, pelo beber ou pelo vestir. Pois se até as aves do céu, que não trabalham semeando nem colhendo, têm o que comer, e os lírios do campo, que hoje existem e amanhã não, são mais belos que toda a pompa de Salomão, porque devemos nos preocupar com quaisquer destas coisas? Até mesmo porque, qual de nós, por mais ansioso que esteja, consegue acrescentar algo a sua própria vida? Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã.

Só vitória no Cristo que nos manda lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós; com um jugo suave e com leve fardo. (Mt 11,30/ I Pe 5,7).


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os três namorados da velha

Essa é mais uma dos transportes. Dessa vez porém, o que aconteceu comigo foi na van – o famoso transporte alternativo – neste último domingo. A personagem principal também não era nem homem e nem estava bêbada – era uma senhora, muito sóbria por sinal. A semelhança? Ela também se sentou ao meu lado e deu-se a falar.

Logo que entrou na van, chamou atenção de todos, falando alto, mas sem urrar, solicitando ajuda ao trocador para que a ajudasse com as sacolas de compras, pois já se tratava de uma velha, que ainda dava pro gasto – ela disse – e que tinha inclusive três namorados: um para o amor, outro para o sustento e mais um poeta, artista.

O amante profissional era, segundo ela, um estudante de educação física; forte e prestativo no que a interessava, sendo contudo um asno, que ela não se atrevia a levar a nenhum ambiente social – não por possível preconceito referente à diferença entre a idade de ambos – mas pelo risco de encontrá-lo se atrevendo a falar algo nas rodinhas de bate-papos que surgem em todas as festas. Era um verdadeiro fraco homem forte.

O outro namorado era o provedor – aquele típico homem da casa, que paga as contas – apesar dela fazer questão de destacar que ele dividia com ela – mas enfim, era o que a fazia bem, não por levá-la a uma alegria física ou por lhe contar piadas, mas pela tranquilidade e segurança que a passava, sendo aquele que sempre “chegava junto”, não lhe deixando faltar “nada”.

O terceiro e último namorado era o que podemos chamar de artista. Ela o chamava de poeta, compositor. Para ela, ele a via como sua musa inspiradora. E ainda que não existisse amor de contato, existia amor de alma. Seu nome estava sempre em suas melodias; seu rosto sempre em suas telas; sua essência sempre estampada nos acrósticos poéticos. Apesar de não ajudar a pagar a conta de nada, nem de lhe satisfazer algumas de suas necessidades físicas, ele a preenchia com doces palavras que a faziam se sentir amada.

Cheguei ao meu ponto e desci antes dela ter me dito o nome dos supostos três namorados. Ao que tudo indica, era uma ilusão bem humorada acerca da vida que ela possuía. Mas, o que nos chama atenção é justamente a dificuldade que muitas pessoas encontram de se sentirem amadas e de decidirem amar.

A grande maioria deseja muito as belas embalagens, ainda que o presente seja made in china – se a embalagem for bonita, se o embrulho tiver sido bem feito, se a capa for dura e ficar bonito na estante, compramos, queremos, aceitamos e desejamos o presente.

Outra grande maioria confunde enormemente a noção de segurança e respeito com a famosa frase “mas eu nunca te deixei faltar nada”, associando sempre este NADA, justamente ao dinheiro, como se esse fosse o TUDO. É como se eu oferecesse à minha esposa e filhos o TUDO que eu achasse de mais importante, para que eles pudessem reconhecer o esforço que eu possa ter diariamente, trabalhando para “lhes dar uma vida digna” (essa é outra frase campeã de audiência!). Todavia, o que eles queriam e precisavam de verdade, era menos 50 % dessa mesada de TUDO o que NADA representa e mais 25 % do NADA que eu tenho lhes dado: presença real, atenção e presteza.

Ah, fala a verdade: quem não gosta de ser paparicado, de ser agraciado com doces palavras que venham de encontro à necessidade universal do homem de se sentir amado? Assim que, na figura do último namorado desta figuraça que a vida me fez encontrar na van – logo eu, de novo! – temos a representação clara do amor utópico e platônico, que nos faz romper barreiras e vencer obstáculos. Do amor cantado por muitos, desenhado por outros, escrito por tantos. São possíveis amores impossíveis, que nos deixam tão embasbacados!

No meio de toda esta alegria exterior, que marcou meus 30 minutos de viagem naquela van, existia latente dentro daquela senhora, um desejo que existe em tantas outras milhões de pessoas, velhas ou novas – o desejo de se ter alguém para amar e ser amado. E mais ainda, o questionamento que muitos têm é porque o meu amante, que sempre foi meu poeta, hoje, no máximo e com muito esforço, apenas me ajuda no sustento?

A “velha” se foi, mas a lição que nos fica e que serve de moral para essa pequena história é só uma: se você tem ao seu lado alguém que continua te ajudando no sustento, mas que ainda te ama de verdade e se inspira com seus olhos, com suas palavras e com seus gestos, bem aventurado és tu!

Só vitória, nesse Cristo que verdadeiramente nos ama, sustenta e inspira!

domingo, 19 de abril de 2009

ENLOUCRESÇA!

A palavra de hoje é curta, porém educada...
Lendo Drumond certo dia, numa citação livre de outro autor, me deparei com uma expressão simplesmente espetacular! O texto, que falava alguma coisa sobre namorados, finalizava com uma associação de palavras genial: a importância de se enlouquecer um pouco para crescer. Ou, como diria Drumond, enloucrescer.

O word a sublinha de vermelho, como se esta expressão fosse errada, desconhecida. Enlou-crescer seria a necessidade básica para se ter a vida com sentido. E não é que preciso concordar com Drumond, pelo menos nesse quesito? Não que a loucura pura e simples, como um surto qualquer possa ser entendida como algo bom e positivo. Todavia, como de médico e louco todo mundo tem um pouco, aqueles que se deixam enlouquecer pelas loucuras que valham a pena, crescem.

Se a lógica é seguir tal caminho ou tradição, se é estar sempre do lado dos que dizem ser correto certas coisas que nem sempre acertam; se é não protestar nem evoluir porque já está bom – e se bom já está, ótimo não ficará, porque aquele é inimigo deste. Desta forma e neste sentido, precisamos urgentemente enloucrescer.
Até o Evangelho é loucura – mas para quem? Certamente a palavra da cruz é a loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus – esse mesmo Deus que preferiu, pela loucura da pregação, salvar os que creem. Esse mesmo Deus que escolheu as coisas loucas deste mundo para envergonhar os sábios.

Definitivamente precisamos enloucrescer - hoje, amanhã e sempre. Sem essa loucura que transcende e nos tira da inércia de uma existência pautada numa vida sem pauta e sem contexto, seríamos apenas meros normais...

Só vitória por sermos um bando de loucos por causa de Cristo (I Co 4,10)!

sábado, 18 de abril de 2009

Converter, inverter e reverter

O português é realmente riquíssimo. Tão nobre ele é que a primeira frase aqui utilizada é também oração. Tão sensacional que a mesma carrega consigo fortíssima dubiedade: será o Manoel – Português da padaria – rico? Endinheirado? Ou será a metonímia que me permite dizer que a língua portuguesa é vasta e detalhista? E a tal da oração da primeira parte deste testo texto – é uma expressão sagrada ou frase dotada de verbo?

Apesar de tão desprezado, o tal do português – tanto o da padaria (frequentemente alvo de xenofobia) quanto a Língua – ambos possuem seu valor. Falarei aqui e agora apenas da linguagem, ok?

Para tal tagarelice textual – se é que isso é possível – me utilizarei apenas de três palavrinhas que são verdadeiros palavrões, quando correlacionadas aos seus significantes. Confesso também que fui pego de surpresa ao percebê-las soltas, cada uma na sua conotação, em textos distintos que saboreava – eu não estava comendo o texto, certo? – e resolvi então verificar, de forma mais minuciosa, a fim (separado) de dissipar tal mentecaptação – ô palavra bonita essa! Embora talvez nem exista.

O interessante corolário (consequência é bem melhor de ser usada) a que cheguei é que converter sem inverter é reverter! O engraçado mesmo é que a definição básica de converter – aquela primeira explicação que aparece no dicionário – é trazer a melhor vida (sem crase) e conduzir à verdadeira (que pelo menos assim se julgue) religião (com crase). Ou seja, é um vaivém – que também é um vemevai, dependendo de onde se olhe. É fazer com que a melhor vida venha e concomitantemente fazer com que se vá até a verdadeira religião. Mas o mais (sem i e depois com i) surpreendente é a idéia de condução à vida. Será neste sentido que o termo gozará de utilização nas igrejas – com a pretensão de levar as pessoas até uma verdadeira vida em oposição a uma simplória condição de existência.

Porém, quando ofereço uma conversão que não produza inversão, ela se torna reversão revertida de sentido. Pois conversão mesmo, além de inverter, faz verter (Graça, amor, alegria, ousadia e muito mais). Essa conversão que inverte é conversão provocadora e assim genuína. É aquela que me faz virar em sentido oposto ao (dito) natural – é a que me coloca em ordem inversa, que me vira ao avesso e assim me tira da inércia e do status quo – essa inversão seria entendida como algo ruim, péssimo e não desejado, se a versão fosse honesta, correta, temente a Deus. Todavia, como o correto é ser incorreto; como a honestidade é tida como um homônimo da esperteza; conversão tem que obrigatoriamente gerar inversão. Pois, se os valores se inverteram, aqueles que se invertem aos valores, são os que alcançam o verdadeiro valor.

Agora, se digo que fui convertido (ou me converti) ao cristianismo, mas me amornei – eu apenas reverti – regressei – e não como cunho psiquiátrico, no intuito de acertar algo em meu passado. Não! Regressar aqui é retroceder mesmo – é voltar, não ao primeiro e desejável amor, mas ao ponto de partida. Mas que ponto de que partida? Da nossa vida? Então é voltar ao nada – à existência sem Deus e assim sem vida real – ao ponto onde estávamos antes de encontrá-lo e conhecê-lo. É vida que não verte. É existência que não significa nada. É conversão sem metanóia. É o já citado estado de mentecapto. Um fim de semana convertido e convergido a Cristo para todos nós!

Só vitória nesse Cristo, que verte vida sobre nós, ainda sem que a nossa existência tivesse existido! Pois, por meio dele, fomos escolhidos e predestinados em amor, antes mesmo da fundação do mundo (Ef 1,3-5).

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Muros e mãos

Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante mim (Is 49,16).

Alguns dizem por aí que sabem ler nossas mãos e que elas possuem a linha da vida, do amor, do sucesso etc. O que se sabe de concreto é que todos nós possuímos marcas em nossas mãos; sejam aquelas colocadas pelo criador – que comporão as nossas digitais – sejam aquelas provocadas por um ferimento de trabalho, por uma queimadura, pelo tempo, pela água, pelo sol. Enfim, marcas que também nos diferenciarão dos outros. Gravações estas que, antes de nos rotularem e nos fazerem sermos tidos por bonitos, feios, conhecidos ou olvidados, nos tornam completamente únicos.

Será esta nossa pessoalidade, a responsável principal por nos sentirmos tão atraídos pelos outros iguais-diferentes que nos circundam. E será ela também, a grande responsável pelas nossas características específicas – o que nos fará, no máximo, muito parecido com nossos pais, com algum tio ou ainda tendo as mesmas características de amigos, mas ainda assim, por todas essas marcas, completamente únicos e só superficialmente iguais a qualquer outro.

O fato aparentemente idiota e sem nenhuma importância de que não existe sequer uma pessoa no mundo igual a nós, na verdade é extremamente revelador no que tange a exteriorizar essa nossa unicidade pessoal.

A profundidade de toda essa marca se tornará mais vívida ainda, no texto de Isaías. Nesta simples assertiva, o profeta parece perscrutar o mar das revelações do ser divino e nos fornecer uma profunda idéia acerca do cuidado de dele por nós. Estarmos marcados (gravados) nas mãos de Deus é fazer parte da identidade divina e de sua natureza. É entender que temos o privilégio e ao mesmo tempo a responsabilidade de sermos a marca de Deus na terra. É regozijarmos por saber que nossa existência e vida são o resultado da manifestação clara do amor de Deus pelas suas criaturas.

E o que poderíamos falar sobre os muros? O que são muros? O dicionário os definirá como uma parede que cerca um recinto ou separa um local do outro. A definição hodierna porém, carrega a palavra de um significado mais voltado para a proteção e a defesa. Afinal de contas, os muros hoje servem muito mais para proteger do perigo real e imediato; seja com arame farpado em cima, seja com cacos de vidro, ou ainda com cercas elétricas e entre portões automáticos – tudo em prol da tal da segurança, ainda que em detrimento de qualquer outro conceito estilístico; muros que fazem apartamentos e casas parecerem verdadeiras prisões, numa paz que assim mais parece medo.

Todavia, a analogia bíblica citada por Isaías busca ressaltar, assim acredita esta pretensão exegética, o nosso limite – ou o popular – “até onde nós vamos”. Se utilizando da idéia conceitual originária de “muros”- como algo que serve primariamente para delimitar espaços e territórios – entendemos que Deus busca assegurar a Isaías de que sabe de-ta-lha-da-men-te não só até onde vamos, mas também, onde e em que estão as nossas defesas. Ter os “nossos” muros continuamente diante dele, significa certeza de proteção daquele que garante conhecer todos os meus caminhos, todas as minhas palavras, todos os meus atos (Sl 139).

O mais sensacional de todo este bate-papo com Isaías, é que esta certeza de que Deus está no controle de tudo e em todos os nossos passos sempre, não deve nem deveria servir como alguma ameaça ou medo, desespero, preocupação, mas sim, como uma palavra de consolo; no sentido de que até mesmo se a nossa própria mãe viesse a se esquecer de nós, o Senhor, todavia, jamais se esquecerá (Is 49,15).

Esta dupla certeza - da segurança e do controle de Deus sobre nós – não significa a exclusão de problemas ou de situações desagradáveis que enfrentamos, até porque algumas muitas destas amarguras da vida, só existem com o intuito de nos forjar para o tempo oportuno de paz (Is 38,17). Entretanto, ter a Deus como aquele que nos dirige e cuida, é sobremaneira maravilhoso.

Só vitória nesse Deus que nos cerca, conhece o nosso coração, prova-nos e conhece os nossos pensamentos; e vê se há em nós algum caminho mau, guiando-nos pelo caminho eterno.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dai de graça o que pela Graça recebestes

Dois dias atrás, postei aqui uma mea culpa, sobre não ter podido parar para falar algo com duas jovens senhoras que, como cachorras, engatinhavam arriando uma oferenda com velas, cachaças e algo mais, proferindo palavras repetidas a uma entidade do candomblé. Isso aconteceu comigo no dia 13 último. No dia seguinte ao fato (14), indo embora para minha casa, após sair da minha noiva, fui interpelado por alguém que pedia ajuda.

Esse alguém, que terá seu nome aqui preservado, me pediu para que eu voltasse até a casa de sua esposa para ver se eu podia atestar que ali estava tudo bem, pois havia acabado de acontecer uma daquelas discussões de casal – só que essa, ao que tudo indicava, havia sido um pouco mais nervosa do que o razoavelmente aceitável.

Voltei prontamente e conversei com minha noiva sobre o ocorrido e como poderíamos intervir, sem sermos tachados por intrometidos. Enfim, não precisamos muito ficar na dúvida, pois a situação se tornou insuportável, tendo em vista que a pessoa em questão começou a gritar e gritar. Fomos – eu, minha noiva e minha sogra ajudá-la.

Ali, tarde da noite, a cena que vimos foi a de uma mulher desesperada. Possuidora de uma bela casa, com uma linda sala, com uma gigantesca televisão – a maior que pessoalmente eu já havia visto na casa de alguém – ela havia se jogado no chão, berrado, olhos fechados, desespero latente. Seu filhinho, como que um anjo, dormia quieto no andar de cima.

Após tentarmos acalmá-la com palavras normais, oferecemos a ela a única coisa que possuíamos de valor e solução – o amor de Deus em nós (At 3,4-6). E após orarmos, pudemos ver que realmente ela começava a voltar a si e se acalmar. O amor havia vencido mais uma vez. Vencido a barreira da arrogância e da soberba daquela que sempre achou não precisar de mais ninguém. Havia vencido ainda a incredulidade daquela que acreditava em tudo o que lhe diziam e assim, verdadeiramente, não acreditava em nada. O amor havia me lembrado, que apesar de às vezes não nos darmos conta do que pedimos ou pensamos e até mesmo esquecermos do que falamos, o Deus de paz está sempre presente – e aquela oportunidade ali estava sendo, 24 horas depois, o meu abraço de amor a uma alma carente da paz de Cristo. Eu estava ali, orando e abraçando aquela vida DESgraçada, com o prazer de quem abraça a um pai que tanto ama. Aquela chance reclamada no dia anterior, estava sendo ali, ainda que em outra pessoa, resolvida. Aquela oportunidade havia aberto as portas para a Graça.

Todavia, apesar de nobre e inesquecível momento de libertação – pois onde está o Espírito de Deus há liberdade (II Co 3,17) – mesmo assim a deixou livre para decidir seguir o que quisesse. Se foi apenas uma dor de barriga momentânea que a fez aceitar a paz que excede todo o entendimento humano; se ela preferir ficar pulando de galho em galho, tendo que enfumaçar sua casa com velas e mais velas, tendo que encher vários copos com água em lugares altos; ou ainda ler manuais para aprender como ser um espírito iluminado, isso tudo caberá a ela.

O importante porém, é termos a certeza de que a deixamos ciente sobre o amor que Deus dedicou a ela; a deixamos ciente de que no meio dela esteve alguém em nome desse amor (Ez 2,5). O imprescindível e digno de registro é que pudemos nos sentir Igreja com I maiúsculo e não apenas freqüentadores de templos. O gostoso foi que nos aproximamos, amamos ao próximo como a nós mesmos; atentamos para a multidão sem nos preocuparmos com que iriam achar; nos achegamos sem pedras de juízo ou carregados de pré-conceito. Só tínhamos a intenção de amá-la, porque era muito bom para nós fazermos isso!

O que mais tenho para dizer? Nada. Apenas testificar sobre esse amor que continua a romper as barreiras afim de que todos sejam convergidos a Deus, através do Filho. Essa é, indubitavelmente, a maior revolução de todos os tempos. Fazer, apenas através do amor, com que homens, até então sem nenhuma expectativa de existência, conseguissem sonhar em ter uma vida de verdade, até então inimaginável. Tem algo mais cheio de graça do que isso?!

Só vitória nesse Cristo – o eterno que se limitou até nós, com o único intuito de nos fazer experimentar o dom da eternidade. Isso é Graça e de graça! O resto é balela com invólucro de cristianismo...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Não conversamos mais

No último sábado, após mais uma aula no seminário, fui a um aniversário. Antes porém, dentro do ônibus, um inusitado fato veio a ocorrer comigo – logo comigo. Um senhor, completamente trêbado, veio se sentar ao meu lado.

Ele estava acompanhado de sua esposa, que havia se sentado alguns bancos à frente. O lugar mais próximo que ele conseguiu enxergar foi ao meu lado. Digo “enxergar” porque ele já havia tentado se sentar em outro banco – que só estava vazio por estar completamente sujo – sendo impedido por outros passageiros que o gritaram, rindo dele.

Depois de decididamente se sentar ao meu lado, passaram-se poucos instantes até que ele começasse a falar, meio que sem direção e para ninguém – você já reparou o quanto isso ocorre dentro das conduções? O quanto pessoas, até então completamente desconhecidas a nós, começam, aparentemente do nada, a falar sem parar, como que querendo puxar a atenção, como que externando um profundo desejo intrínseco de serem observadas e acolhidas? São pessoas das mais variadas, que excluindo aqueles que porventura queiram te vender algo, são simples seres completamente carentes.
Não demorou muito para que ele se virasse para mim e pedisse desculpas por estar falando comigo, mesmo sem me conhecer. Repliquei suas desculpas aglutinadas de dúvidas – afinal, ele havia perguntado se “poderia falar” – dizendo que a Constituição lhe concedia o direito de falar sim.

A gratidão daquele senhor, pelo simples fato de poder falar comigo e ainda mais pelo fato de ter sido ouvido e ainda ter dialogado – afinal de contas eu também lhe falava – parecia para ele como algo de outro planeta.

Ele falava sobre coisas que possuía – dinheiro, empresa, carro etc... um homem poderoso, ainda que somente no imaginário dele – talvez eu nunca saiba a verdade sobre isso. Sei porém, que ele poderia até ter muito ou quase tudo disso, mas que não possuía uma coisa simples: alguém – ainda que desconhecido – para lhe dar atenção.

Sua carência era tanta que suas palavras se repetiam; queria apertar a minha mão e já havia se desculpado pelo menos duas vezes por ter começado a me falar do “nada”. Sua falta de tato era tão precária que ali, em poucos minutos, para um desconhecido, ele falou até mesmo sobre seu filho e revelou até mesmo o seu nome – o dele Álvaro, o do filho, Wagner. Todavia, nada evidenciou tanto a sua carência – claramente mais aflorada por causa do álcool – que o fato de ter me agradecido, quando eu fui saltar, por ter conversado com ele.

Talvez você nem se lembre da última vez em que te agradeceram por causa de uma conversa; ou ainda, não consiga se recordar, mesmo com muito esforço, de um momento de um papo espontâneo, sem ter sido previamente marcado para a resolução de um problema na empresa; sem ter sido mais uma de tantas discussões de relacionamento; sem ter sido algo pré-agendado e na maioria das vezes de consequências de cartas mais do que marcadas. Agora, se você se lembra de bons papos, bem aventurado és tu! Pois cheguei a conclusão de que simplesmente não conversamos mais. Pelo menos não desse jeito tresloucado, sem falácias e verborréias; conversas realizadas pelo simples prazer de se olhar nos olhos e sorrir sem culpa. Isso tem se tornado cada vez mais utópico e escasso.

Assim, como diz o Balero, ainda que seja por um telegrama “nego”, sinta-se feliz, porque no mundo tem alguém que diz, que muito te ama; que tanto te ama; que muito tanto te ama...

Só vitória por causa dessa inexplicável graça, que nos faz gostar tanto das coisas mais simples, e justamente por isso, mais raras e especiais, como uma boa conversa...

terça-feira, 14 de abril de 2009

É repetitivo – eu sei – mas tá faltando amor, fazer o quê??


Ontem a noite, quando voltava pedalando calmamente para casa, depois de mais uma aula no seminário, pude presenciar uma cena que retrata bem a escravidão e a condição subumana a que algumas pessoas aceitam se submeter. Digo “aceitam”, nem pelo fato de terem diretamente escolhido tais situações, e sim por muitas delas escolherem permanecer nelas.

Ali, numa encruzilhada, estavam duas jovens senhoras – uma toda de branco, a outra com roupa “normal” – prostradas, literalmente engatinhando como cachorras, para derramar cachaça ao chão, enquanto acendiam velas com pressa e reproduziam palavras repetitivas à padilha (Maria Padilha – entidade do Candomblé e da Umbanda, também famosa como Pomba Gira) como numa reza ao escuro.

Numa condição totalmente degradante, humilhante e suja, uma delas inclusive me olhou incisivamente, não com autoridade ou raiva, mas com vergonha e desconfiança. Só tive tempo de reverter meu pensamento a ela e, entre uma pedalada leve e outra, depois de também tê-la fitado os olhos, sentir um total pesar pelas milhares de pessoas que estão escravizadas por escolhas, um dia mal feitas. São seres que existem, mas não vivem e que preferem ser chamados de “minha burra” e de “cavalos”, do que de filhinhos amados e amigos.

A tristeza maior é saber que cada gota de sangue derramada por Cristo na cruz, foi no intuito de agraciá-las tanto quanto a mim. Ou seja, sou tão imerecedor desse amor incondicional quanto elas; sou tão carente dele e tão necessitado de Graça quanto elas. E a tristeza não é pelo egoísmo de não querer ser tão igual assim, mas pela circunstância de me incomodar tanto o fato de não ter podido ali, naquele momento, manifestar esse amor a elas. O registro aqui é uma mea culpa cristã sem vergonha, apenas para que fique manifesto que pessoas estão morrendo ao nosso lado, porque não conhecem a verdade que liberta; enquanto nós sabemos que apenas se o Filho libertar haverá liberdade (Jo 8,36), mas não fazemos nada com esse conhecimento.

Todavia, com a desculpa esfarrapada de que estava de bicicleta, tentei pelo menos orar por elas, pedindo ao Pai que a multifacetada Graça dEle pudesse alcançá-las e que verdadeiramente pudessem se sentir como filhas de verdade (Jo 1,12).

Se o mundo tem andado em trevas, talvez seja porque aqueles que o deveriam iluminar estejam um pouco apagados (Mt 5,14), ou ainda preocupados em iluminar debaixo do alqueire; querendo ser luz onde não precisa.

Acredito verdadeiramente que as soluções são viáveis, porém não agradáveis aos que preferem não ter suas medíocres vidinhas de posições clericais, alteradas por uma agenda com menos reuniões idiotas que nada decidem e mais ações práticas de amor ao próximo. O que falta, além da incompetência de alguns e da total falta de vergonha na cara de outros, é amar ao próximo como a si próprio.

Se um dia, aqueles que se dizem igreja e não o são, se recuperarem de sua amnésia, e se lembrarem de onde caíram (Ap 2,5), e deixarem de ser mornos (Ap 3,16); talvez aí tenhamos menos crentes (que estão abafando) no mundo e mais gente normal, que ainda se entristeça ao ver a iminente extinção de sua própria espécie, cada vez mais gritante todos os dias.

Só vitória nesse Cristo, que nunca nos chama de escravos, e sim de amigos (Jo 15,15)!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Todo mundo falou de Jesus ontem...

Tenho a total certeza de que, caso ainda existisse alguém que não tivesse sequer ouvido falar de Jesus, ontem a televisão tratou de dirimir – pelo menos aos seus telespectadores – tamanha falta de informação, ainda que apenas no que tangeu à cognoscibilidade referente à existência do Cristo.

Simplesmente TODOS os canais abertos, e vários canais fechados, dedicaram pelo menos um momento, um flash, um programa especial, uma reportagem dentro de um jornal etc, para falar sobre a páscoa, mas principalmente sobre a morte e a ressurreição do homem mais importante de todos os tempos – Jesus Cristo.

Dos documentários polêmicos e alguns muito bons da Discovery a reportagens com comentários de teólogos em programas que são comumente sobre política e economia, passando por prováveis receitas judias da época de Cristo, fato é que, direta ou indiretamente, com qualidade e espiritualidade ou apenas por preenchimento obrigatório na grade de programação; com intuito totalmente religioso e evangelístico ou tão somente banal e comercial; falou-se muito de Jesus.

A questão é que o simples fato de se falar de Jesus é algo mais do que comum e rotineiro no cotidiano das pessoas hoje em dia, sendo semana da paixão ou não. Comenta-se sobre Cristo todos os dias – nas igrejas, nos seminários, nas reuniões e workshops sobre chefia e liderança, nas trocas de e-mails no trabalho. Enfim, Cristo parece estar na boca das pessoas; seja da nossa tia que nos diz estar tudo bem com ela “graças a Deus”; seja no jogador de futebol que diz ter sido feliz porque “graças a Deus, Jesus o iluminou”; seja ainda no pai que diz ao filho “Deus te abençoe”. Como já afirmamos – a maioria das pessoas, de diferentes classes, credos e idades, falam DE Jesus. Todavia, o problema com a maioria desses comentaristas, é que a mensagem subliminar deles não tem sido sublimar.

Falamos, não necessária e obrigatoriamente daquilo que conhecemos, presenciamos e vivemos. Se assim fosse, todos aqueles que têm uma escalação da seleção brasileira na cabeça, seriam exímios técnicos de futebol, ex-jogadores ou profissionais de educação física. Fato é que falamos, pura e simplesmente, do que se convencionou falar e principalmente daquilo e/ou sobre aquele de que tenhamos ouvido algo.

Assim que, a maioria dos que têm Jesus na boca, falam do que ouviram falar e não do que conhecem, sentem, vivem. Se fala de boca e pela boca, do que ouviu e se tem ouvido falar dele. O questionamento (que nem acredito ser assim tão importante) sobre até que ponto teria algum efeito evangelístico o se falar de Jesus, não está focado no fato de acharmos que apenas alguns falam com conhecimento de causa sobre ele. Não! O problema é a total banalização de Cristo e de seu evangelho. Citá-lo apenas como quem cita um lance de um FLA-FLU, é falar de quem se não enxerga pelos olhos da fé; é falar do que não se vive e assim mentir.

Ainda que por agora, muitos só escutem falar dele e assim reproduzam o que têm ouvido, nosso esforço é para que a grande maioria venha a tê-lo com alguém íntimo em suas vidas, e assim deixem de falar do que não sentem e passem a comentar, com redobrado regozijo, daquele que passaram a enxergar (Jó 42,5).
Só vitória no Cristo tão falado, tão citado e tão mal compreendido e amado por todos nós, imerecidos amantes dele...

domingo, 12 de abril de 2009

Porque gostamos tanto de estar juntos?


Excetuando todos os significados históricos, etimológicos, filosóficos e muito mais que discorrem sobre a páscoa, quero apenas falar, de forma sucinta, sobre algo que sobrepuja a todas essas conceituações enciclopédicas – o sentimento que nos faz gostar tanto de comemorar e principalmente comungar com aqueles que tanto amamos.


Para isso, quero apenas me utilizar do texto esquecido de Lucas sobre a páscoa; consequentemente reinterpretado para a celebração do que viria a ser a Ceia. Será ele o único a relatar a possível fala de Cristo quando o Mestre, ao estar com os seus discípulos mais chegados – os doze – diz do fundo da alma: “Desejei muito (ansiosamente) comer convosco esta páscoa, antes do meu sofrimento” (Lc 22,15).


O interessante mesmo, além do fato dessa fala ser apenas encontrada no texto Lucano, é que Cristo está se pronunciando como um homem normal e o fazendo sobre coisas normais, porém da alma. Ele não está preocupado com o tipo, a qualidade ou a quantidade do pão ou do vinho. Muito menos acordou naquele dia com a intenção premeditada de institucionalizar a mundialmente conhecida Ceia. A fala de Jesus é simples: eu desejei ardentemente participar desta comunhão com vocês – ou seja – estar junto de vocês; poder olhá-los pela última vez; poder senti-los, tocá-los; rir um pouco com vocês sobre as coisas aparentemente banais da vida; comer e beber e fazer tudo isso agradecendo ao Pai por tal oportunidade.


Apesar de nós, ocidentais, não termos muito este sentimento de tanta reverência e preocupação com quem colocar à mesa nas refeições; fato é que os Judeus tinham e o tem até hoje. E de que isso nos importa? No fato de que, mesmo sendo Cristo judeu e os seus discípulos que ali estavam também, ele se permite, ainda que num momento tão sagrado – a refeição – participar com aqueles homens incrédulos, duvidosos, e tendo ainda o traidor entre eles. Pelo simples fato que ultrapassava a tudo isso – ele os amava assim mesmo – e isso, para ele, era mais do que suficiente.


É justamente esse sentimento mais importante – o desejo de se estar junto de quem tanto ama – que supera os pequenos detalhes periféricos, tais como o fato de (às vezes) não se ter o melhor pão ou melhor vinho; de não ter o bacalhau ou o salmão; de não se ter o ovo de páscoa número 20 ou a caixa de bombom de 400 gramas. Isso tudo é periférico, adjacente, inexpressivo. O valioso é ter algum alguém para se estar perto, amar, olhar nos olhos, sorrir e se divertir – sempre dando graças a Deus por tudo isso. Se possuirmos a quem amar, de que nos importará o resto?


Ah, e porque gostamos tanto de estar juntos? Pelos simples fato de que somos todos seres completamente interdependentes e assim, totalmente carentes de proximidade e relacionamento. O resto, é só resto.


Só vitória, no Cristo que tem nos dado o maior dos exemplos – o de valorizar mais o amar do que o possuir... Boa páscoa para todos nós!

sábado, 11 de abril de 2009

O que eu, Adriano e você temos em comum?

R: TODOS NÓS PRECISAMOS DE PAZ!

Hoje quero falar sobre algumas das coisas que o dinheiro não compra (apesar de comprar muitas outras). Falo de paz e felicidade, por exemplo.

Repercutiu no mundo inteiro a entrevista coletiva de ontem do (ex?) jogador Adriano. Artilheiro, jogador de seleção, Imperador na Itália, simples jovem da Vila Cruzeiro.

Adriano chamou atenção ontem pela manhã, não por fazer um gol que decidiu um campeonato, ou por alguma briga numa boate, ou ainda por ter sido pego com prostitutas. Por incrível que pareça, ele chamou atenção com as palavras – algo bem raro no mundo futebolístico dos jogadores.

A notícia de que, por enquanto, pretende parar de jogar futebol está, segundo ele, diametralmente relacionada à falta de simples e abstratos sentimentos: a paz e a felicidade. E isto não é interpretação minha ou uma analogia forçada de sua fala. Foram as palavras dele: “Eu quero paz” e ainda “Eu não estou feliz”.

A reportagem inclusive, trouxe alguns comentaristas (jogadores, técnicos...) – um bando de gente que adora dar pitaco na vida dos outros – como nós (?). Na grande maioria disseram que ele precisava de ajuda, de casamento, de filhos com uma esposa, de psicólogo e coisas do tipo. Seu ex-técnico porém, o português Mourinho, disse sabiamente: “se perdermos o jogador, mas ganharmos o homem – então está perfeito”. A diferença do nosso pitaco está na questão de que todo mundo já está cansado de ouvir e saber, mas que a sociedade pós-moderna finge ignorar: o fato de que nenhum dinheiro, fama, carro importado ou mulher, pode dar a homem algum: a paz! E sem ela, não há felicidade ou alegria para se fazer nada.

Mas, não estamos falando da paz que o mundo diz poder oferecer. A paz que Adrianos, Ronaldos e Thiagos por todo o mundo precisam, é a paz de Cristo (Jo 14,27). Paz essa, que excede todo o entendimento e conhecimento humano, porque produz tranquilidade em vez de ansiedade, porque permite encontrar o que se busca, em vez de se desesperar por ter tudo e não se sentir possuidor de nada; a paz que nos faz ter a quem orar, e se necessário suplicar, mas também descansar os nossos corações (Fp 4,6-7).

O que o Imperador precisa é se portar como servo, deixando de ser o estereótipo padronizado que fizeram sobre ele. Ser apenas mais um simples ser que ocupe o seu pensamento com tudo o que for verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama e de boa virtude e o Deus de paz será com ele (Fp 4,8).

Torcemos e oramos para que a graça irresistível do Deus de amor o alcance, assim como a todos nós que, por agora, esquecemos e queremos trocar as coisas invisíveis pelas visíveis; as imensuráveis pelas que se podem medir; as divinas pelas terrestres e nos fingirmos de felizes.

Talvez conheçamos todas, ou grande parte das coisas que se pode comprar com dinheiro – e alguns poucos até têm muito. O que precisamos agora, é conhecer justamente as coisas que com o dinheiro não se pode possuir: a paz que produz felicidade e a felicidade que nos traz a paz.

Só vitória naquele que tem nos dado a verdadeira paz, para que a nossa alegria seja completa e não apenas o nosso sábado, mas todos os nossos dias, sejam de Aleluia...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

CARNE VERMELHA: Comer ou não comer – eis a questão...

Ah se todos verdadeiramente se preocupassem com o que interessa...

Hoje é a famosa sexta-feira santa cristã. Que maravilha! Mas será mesmo uma santa sexta-feira, Batman? O foco principal do feriadão, além de promover vários kilômetros de engarrafamento em quase todas as rodovias desse Brasil – cada vez mais religioso e menos cristão – e também de quadruplicar o lucro das peixarias e das vendas de caixas de bombom (quem não gosta de uma??) e ovos de páscoa, parece estar "preso" em uma tradição proibitiva: NÃO COMER CARNE VERMELHA.

Mas o que tem a carne vermelha com a santificação da sexta-feira? E o que me torna assim tão herege ao comer bife de alcatra neste dia? A referente tradição remete à lembrança de que numa sexta-feira longínqua, morria crucificado na cruz do calvário, Jesus Cristo; dando assim sua própria carne (vida) por nós. Sendo desonrosamente exposto como maldito num madeiro. Coroado com espinhos que o faziam sangrar sobre o corpo já nu e ferido pelos soldados romanos, pelos cuspes, tapas e chicotadas. Com a alma angustiada pela solidão e ofensa daqueles que, como nós, não sabiam o que faziam.

Desta forma, o fato de não se comer carne vermelha, busca evocar a um respeito honroso pelo Mestre. É como se fosse assim: Cristo morreu numa sexta-feira. Da mesma forma, nesse “mesmo dia”, os “cristãos” lembram de tal fato e em homenagem, respeito e como memorial de fé, se privam de comer a tal carne vermelha.

Até aí nada de mais – até porque cada um faz o que bem entender com o corpo e a vida que Deus lhe deu, ciente apenas de que tudo me é lícito, mas nem tudo me convém (I Co 10,23). De forma que, se para uns o comer carne vermelha traduz falta de respeito ou destemor ao evento “crucificação”, para outros pode ser – e assim é – que não represente nada o comer ou beber. Fato é que fomos chamados à liberdade e que saibamos usá-la em amor (Gl 5,13).

Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (I Co 10,31). Até porque, não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos se não comermos, e nada ganharemos se comermos (I Co 8,8). Assim é que um come de tudo, enquanto outros (mais fracos na fé) acham que só podem comer algumas coisas. Mas que quem coma não despreze ao que não come e vice versa (Rm 14,2-3), pelo simples, porém importante fato, de que o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo e aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. E a fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Porque Bem aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova (Rm 14,17-22).

Assim, que me é permitido não comer carne nesta sexta-feira, em lembrança, respeito e honra à crucificação de Cristo, ou seja lá ao que for. Todavia, me é tão santo ou permitido churrasquear. O que não me convém, apesar de ser-me lícito, é amar fingidamente no ano inteiro e passar 24 horas de um dia como qualquer outro sem comer um pedaço de boi. O que não se deve, mas se faz, é pensar que o bacalhau possa encobrir a minha multidão de pecados cometidos em todos os outros dias do ano. O que é ridículo, infantil e néscio, é se preocupar mais com o exterior do que com o interior.

Só vitória naquele que nos permite comer o que quisermos, onde e quando quisermos; pois muito mais importa que rasguemos o nosso coração e não que o exterior apareça (Joel 2,13).

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O importante mesmo é parar e amar!

Vivemos num mundo de internet – isso é um fato – e sendo assim um mundo mais rápido, mais dinâmico, mais digital e por isso, menos sensível, menos interdependente. Somos levados a confundir interatividade com inter-relacionamento; porém, enquanto aquela busca promover o feed back do ser à máquina, esta última se preocupa em estabelecer relações entre os seres, através dos próprios seres, sem nenhum artefato ou intermediário.

Na correria forçada dessa globalização contemporânea, paramos as vezes por força das circunstâncias, seja num engarrafamento, num acidente, numa doença, numa morte; enfim, na verdade não paramos e sim, somos parados. Não nos damos oportunidade de sentir e sim, sem querer, por descaso da nossa atenção exacerbada no instante, nos “pegamos” prestando atenção naquilo que sempre deveríamos ter observado – o próximo.

O próximo pode “ser eu”, pode ser você, pode ser da sua família, professar sua religião e crença ou não; pode ser tão espiritual ou extremamente herege, pode ser muito recatado ou completamente desavergonhado; pode ser velho ou criança, pode ser quem você nem vê, ou quem vê você sem você saber. O que importa mesmo não é saber quem é o próximo, mas enxergá-lo como próximo. A larga distância entre o “totalmente outro” para o “bem próximo” aumenta a cada dia por causa da nossa insistência no EU.

Numa época poderosamenete milagrosa para o comércio – afinal, até coelhos botam ovos nestes dias – e de total corre-corre desenfreado pela caixa de bombom mais em conta, saborosa e que possa ser parcelada, se possível fosse, até a páscoa do ano que vem – é interessante refletirmos sobre o amigo que parou (mesmo em meio a correria do dia a dia) e amou a um desconhecido, porque já tinha amado antes de parar. Estamos falando do famoso e tão raro bom samaritano, usado como exemplo de misericórdia e compaixão por todos os círculos espirituais desse mundo.

O simples ato de parar está bem distante de nós, justamente porque afirmamos não termos tempo. Nos deparamos no meio da rua, com um conhecido que há muito tempo não víamos e impulsivamente perguntamos (para nos arrependermos logo em seguida) se está tudo bem, rezando enlouquecidamente para que o ‘coitado’ responda que sim. Afinal de contas, se ele tiver a ‘audácia’ de querer nos contar algum problema, já estaremos a umas 300 passadas a frente, logicamente com pressa.

Será que o ferido no meio da estrada da vida, seria atendido por nós hoje em dia? Talvez sim, talvez não. Mas fato é que dificilmente o seria pelos espirituais de plantão ou pelos ministros religiosos de hoje – com agendas tão lotadas, que cada vez mais se perdem no propósito do chamado que ousam afirmar possuir.

Não há pessimismo demasiado em minhas palavras, há realidade e exatidão. A história se repete e os personagens só têm nomes diferentes. Mas os profetas continuam a profetizar paz onde não há paz; os pastores só continuam se alimentando da máquina que enriquece alguns de bens sem bem e fazem outros não terem nada – mas possuírem o que interessa.

Quero terminar por aqui, pois o intuito desse recado é destacar a parada do amor. Assim, para não nos perdermos, deixamos para outro momento os comentários sobre temas como “o pão e circo pentecostal”; “nepotismo evangélico”; “pastores sem pastor”; “dízimo como arrêgo” etc e tal. Por agora, permanece o maior de todos: o amor.

Beije sua esposa, sua noiva, sua namorada! Abrace como se fosse a primeira e a última vez a seus filhos. Enfim, pare para amar e ame parado (com bastante calma).

Só vitória nEle, que como já dizia o sábio, nos orientou a gozar a vida com a mulher que amamos e a comer e beber do fruto do nosso trabalho – porque isso faz parte dessa vida debaixo do sol (Ec 5,18 / 9,9).

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Palavras despretensiosas de uma Quarta-feira...

Queria não querer mais e só realizar.

Não quero ser alguém que não viva.
Sou apenas uma pessoa normal que deseja estar no céu com Deus, mas que não quer morrer; apesar de que já quis às vezes – é que de vez em quando a vida fica bem chata, sem graça, opaca, inócua, avívida.

Pensando melhor, talvez não seja tão normal assim como a maioria das pessoas.

Sou contrário ao velório e à preocupação exacerbadamente inútil sobre a qualidade dos esquifes e completamente a favor da doação total dos “meus” órgãos.

Sou a favor do perdão, mas totalmente por interesse próprio (já que peco constantemente) e não porque sou alguém bonzinho e espiritual.

Gosto muito de ler e mais ainda de escrever, na maioria das vezes sem muito nexo, sem muito sentido, sem muita conexão. Escrevo de tudo – frases soltas, que na verdade acredito estarem sempre presas a alguma coisa. Redijo pensamentos teológicos nada fundamentalistas e às vezes nada teológicos. Escrevo sobre mim, sobre o amor, sobre a morte, mas acho que meu tema predileto é a relação incompreensível à finitude soberba e idiota de todo ser humano, no que tange a assimilação do estigma pecado-perdão.

Isso, creio não ser muito involuntário assim, tendo na verdade uma relação subconsciente de satisfação pessoal – o “escrever sobre o perdão” implica em estar sempre dependente dele – e isso para mim é verdade factual.

Mas, escrevo histórias de mundos que não existem, especulações sobre histórias policiais etc. escrevo, escrevo, escrevo... Sou um verdadeiro escrivão utilizando aqui a palavra com o sentido daquele que escreve muito (ÃO).

Não gosto de arrumar a cama e não tenho dificuldades de dormir sobre livros, papéis e caneta. Estes últimos inclusive – papel e caneta – são indispensáveis para qualquer lugar que eu vá. É... eu ainda escrevo muito no tradicional papel e caneta, mas não sou avesso à tecnologia e também digito – até rapidinho, mas não gosto de ler no computador – é meio chato – apesar de manter um blog com artigos diários – mas aí eu escrevo e não leio – alguém (ou ninguém) é que lê - não eu.

Acredito que Cristo jamais idealizou a criação de uma Igreja institucionalizada, com diáconos tomadores de conta de banheiros e estacionamentos; com presbíteros que possuem cadeiras cativas nas tribunas e com homens que não se cansam de serem hoje bispos, amanhã apóstolos, depois sumo sacerdotes, daqui a pouco jesuses.

Acredito que qualquer pessoa na face da terra pode ser salva, se alcançada pela Graça que há exclusivamente em Cristo. Fora do Corpo (de Cristo) não há salvação e a Igreja, seja ela qual for, não é o corpo e muitas delas nem fazem parte dele, nem nunca fizeram, nem o farão.

Tenho a total certeza de que nos preocupamos com as coisas mais idiotas do mundo e as que de fato importam estão ficando de lado, esquecidas, desleixadas. Exemplos claros: nossas preocupações são sobre a largura do vestido, o uso obrigatório do coque e proibitivo de brincos; a proibição de ir ao cinema, mergulhar na praia, etc... a obrigatoriedade de se usar terno e gravata, inclusive num sol de 40 graus do nosso abençoado Rio de Janeiro. Idiotices que proíbem o uso de bermuda, óculos escuros, boné, camiseta, jogar futebol e ver televisão – afinal, dizem, não somos desse mundo e precisamos ser diferentes.

Para estes, a gravata nos diferencia e a barba nos desvanece. Para estes, Cristo é um jumento que só vai levar para o céu os que oram mais de duas horas por dia, sobem monte, jejuam sempre (ainda que sem saber por que, para que ou como); não se pintam, não mostram as canelas, muito menos as coxas.

Desprezo o dízimo como um arrêgo que me garanta a segurança dos anjos de Deus diante de um furioso devorador, que caso eu não pague esta minha prestação cristã mensal, Deus se “desobrigue” de me livrar dos males deste infortúnio. Deus realmente não tem obrigação nenhuma de me livrar – mas Ele o faz. Não porque sou dizimista fiel de adesivo no carro e tudo, mas sim porque Ele é amor e não “consegue” deixar de cuidar daqueles por quem enviou seu filho a morrer humilhadamente crucificado.

Na lista intermitente de preocupações idiotas, se relacionam ainda proibições quanto a audição e menos ainda a cantoria de músicas ditas do mundo. As românticas? Só Cassiane e Jairinho estão autorizadas – nada de Djavan e muito menos Ana Carolina – ele é incrédulo, ela bissexual.

Nos preocupamos até com a água do batismo – tem que ser fria, corrente, de rio. Ou será que pode ser de batistério mesmo, quente e parada? Tenho que mergulhar o indivíduo, ou posso só dar uma jogadinha na testa? E a Ceia? Maguary ou ki-suco? Vinho de verdade ou refresco? Pão da padaria do Manoel ou feito pela irmã Jurema? Sem ou com fermento? Suíço, careca, francês ou Hebraico? Devo chorar e me entristecer nesta celebração? Devo confessar publicamente tudo o que de errado fiz no mês corrente?

Sinceramente tenho por certo de que de nada interessa saber de onde veio o pão e muito menos se o vinho é vinho ou suco de pozinho. Me interessa muito menos a procedência da água batismal e se me jogam-na com um copinho de plástico, ou se sou mergulhado nela. Ela inclusive, poderia ser fanta uva, sprite, soda; ser mineral, de poço, de rio, de cachoeira ou de chuva. Ela é só um mísero detalhe representativo; um artefato do ritual – é o sentido real do memorial que tem importância para os salvos (e só para estes) e só por isso.

Quem nos salva? Cristo através de sua Graça manifesta pelo seu incompreensível e incondicional amor, que nos garante que nada do que possamos fazer implique em ele nos amar mais ou menos OU a água do batismo, o pão da ceia, o valor do dízimo, a frequência nos “cultos”? Isso tudo são “fins” – mas e os meios? É isso o que vale para Deus – os meios! O propósito – ou seja – o que me faz fazer o que eu faço e o que me faz não fazer o que eu não faço – é isso o que realmente importa; você não acha?

Enquanto continuamos nessa vida sem vida e sem Graça, de infantilidade espiritual e mixórdia, vamos continuar confundindo animamentos com avivamentos; continuar achando que Deus está em qualquer lugar que diz possuir o seu nome e que coloque uma placa contendo palavras de ordem em hebraico ou ainda algum versículo bíblico. Vamos continuar achando que Bíblia aberta na sala de casa abençoa o lar e que em cima do painel do carro ou dentro do porta-luvas também nos protege. Vamos continuar nos achando os mais espirituais do mundo, principalmente se falarmos meia dúzia de línguas tão estranhas – que já dizia Paulo, sem entendimento, não servem de nada para edificar a Igreja de Cristo e é melhor que os tais se calem.

Vamos continuar pagando para vermos mercenários profetas de pregações prontas trazerem mensagens de falsa paz. Vamos continuar pagando 500, 800, mil Reais para artistas cantarem 4, 5, 6 músicas por uma hora num culto.

Vamos inclusive, pela mediocridade das opções e pelo contentamento do simplório, ficarmos satisfeitos em chamar qualquer reunião eclesiástica de culto.

Nosso problema? A conformidade, o contentamento, a omissão. A burrice dos que não leem o Evangelho com amor de iniciante. Nossa falha? A soberba evangélica de nos acharmos assim tão melhores do que o restante do universo inteiro. Nosso grande erro? Termos medo e covardia de protestarmos contra o status quo do protestantismo sem protesto que hoje existe.

Porque continuamos com mensagens esdrúxulas, porém ineficazes? Porque infelizmente muitos preferem ser enganados a ouvirem a verdade que liberta.

Você acha mesmo que Cristo esteja habitando dentro de um local que se canta para exaltação própria, onde há pecado encoberto, onde há amor ao dinheiro, onde há pastorlatria exacerbada, onde o nome da Igreja e do clero são mais evidenciados do que o nome de Jesus?

Acha mesmo que alguns terão pedras e mais pedras preciosas em coroas sobre suas cabeças e morarão em mansões nas regiões celestiais, enquanto outros “apenas” estarão no céu, mas morando em casebres?

Acha mesmo valioso discutir sobre onde será o céu ou paraíso, ou o que importa de verdade é estar com Ele (Cristo) onde quer que Ele esteja?

Nesse meu pouco tempo de caminhada, já tive o desprazer de conhecer muita gente preocupada com gravata, tomada de conta de porta de banheiro, cartão de membro, de obreiro, dízimos, ofertas e outros.

Aprendi que a verdadeira essência do Evangelho está no amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo (quem é o meu próximo??) como a mim mesmo. E que isso implica em partilhar, como nos pães e peixes; a se entregar mais no amor e ao amor de Deus. A buscar mais (como disse ontem), sermos o ser que Deus quer que sejamos e não o ser que achamos ser, ou ainda o ser que todos os outros acham que deveríamos ser...

Só vitória no Kara, que tem sido o maior amante de todos os tempos. Em quem não há sombra de variação e por isso não “pode” nos amar menos hoje, do que já nos amou um dia e para todo o sempre!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Onde está o Espírito do SENHOR, aí há liberdade

Tratando a premissa acima (II Co 3,17) como uma sentença lógica, poderíamos inferir sem erro, que em qualquer lugar que haja liberdade, estará também ali a presença do Espírito do Senhor.

Onde estará então a tal liberdade? Na oportunidade de se fazer o que quiser, quando e como quiser? Arrisco-me a dizer que se assim fosse, dificilmente poderíamos nos considerar livres, pois raramente estaremos na condição de fazermos o que quisermos, em qualquer tempo e de qualquer modo.

Todavia, o sentimento de liberdade é vastamente encontrado como algo latente em toda a humanidade. Seja em obras televisivas, o seja em livros, o seja em bate-papos despretensiosos ao final do dia – a tal sensação de liberdade é experimentada – ou pelo menos citada como o tendo sido galgada, seja por aqueles que andam de moto com o vento na “cara”, seja por aqueles que acabam de ficar solteiros por escolha própria, seja por aqueles que mergulham, que velejam, que pescam, que se amam – enfim, há um “L” de liberdade em tudo isso, ainda que em muitos casos apenas abstrato e apenas verbalizado, porém não realmente sentido.

Como estamos tratando de sensações e sentimentos, estamos tratando de subjetividade e de nuances imensuráveis. Isso nos leva à não exatidão concreta, o que por sua vez nos faz retornar, ainda em dúvida, para o nosso ponto de partida e questionar mais uma vez: onde estará então a tal liberdade de verdade?

Ainda que não consigamos chegar a um denominador comum – e isso, neste caso, é muito bom, pois a simples premissa de diferença traduz liberdade – podemos porém, associar de forma inseparável a liberdade com a presença do Espírito da verdade – o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo – Espírito esse que por ser a verdade, pode sim libertar; como bem afirmou o evangelista João: “E conhecereis A verdade e ELA vos tornará livres” (Jô 8,32). Como afirma esse humilde, porém pretensioso blog: Sem a PALAVRA (que é a manifestação clara e explícita da verdade de Deus – JESUS CRISTO) não pode haver LIBERDADE (de pensamento, de atitude, de vida).

Desta forma, mesmo ciente de que existem tantos outros versículos bíblicos que atestariam a importância de se ter a Cristo para se entender livre e tantas outras insinuações bíblicas que poderíamos explorar acerca de vasto tema; por agora entretanto, basta afirmarmos que se não há liberdade, não há presença de DEUS! Ainda que haja religiosidade, ainda que haja reza, oração, atabaque ou teclado; ainda que haja versículos estampados na parede, ou esculturas penduradas no teto; ainda que haja mesa branca ou preta; flor ou anjos; ainda que hajam pastores, padres ou guias – a simplicidade do entendimento é esta: se não existe Liberdade – ou seja – se não me sinto à vontade, se não posso entrar do jeito que me sentir bem, se não posso ser ouvido, se não posso sequer participar de tudo o que acontece, porque existem cerimônias secretas, ocultas ou apenas para alguns – o Espírito do Senhor está bem longe. Logo, não aconselho você a ir e muito menos a permanecer em um lugar deste, seja ele camuflado de templo, de igreja ou do que for.

Só vitória nEle, que nos tem dado a Liberdade de sermos nós, em detrimento de sermos o ser que os outros desejam tanto que sejamos...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Os inimigos do homem são os da sua própria casa...


Até quando? Esta talvez seja a pergunta interna mais feita por aqueles que observam o mundo ao seu redor. Até quando a morte não nos incomodará mais, o adolescente armado não nos perturbará mais, as balas achadas e perdidas não nos assustarão, os bandidos fardados não nos deixarão estupefatos? Até quando será normal o sexo barato e chulo, a pornografia exacerbada em nome de uma falsa arte e a infância sendo roubada por pedófilos?

O problema é que não nos apercebemos ainda que o mal está dentro de casa, na mão que balança o berço. Pais são hoje sequestradores de filhas que são tratadas como escravas sexuais. Mães jogam bebês indefesos na lata de lixo ou no esgoto. Paixões fazem o amor desaparecer e trazem com elas crimes hediondos. Os que deveriam proteger são os primeiros a bater e a envergonhar. Definitivamente está tudo errado e o pior: não temos desculpa nem o álibi de argumentarmos que fomos pegos de surpresa pelo ineditismo de tais situações. Não! Nada há de inédito em tudo isso.

Já desde o século VIII a.C., um homem chamado Miquéias anunciava a sudoeste de Jerusalém, que os piedosos haviam desaparecido da terra e que não havia um justo sequer. Todos armam ciladas e caçam seus irmãos. O príncipe procura o mal e o juiz julga mediante suborno. Todos tecem o mal. O melhor deles? Miquéias diz que os melhores são comparados ao espinho; e finaliza sem medo de afirmar o porquê disso tudo acontecer: o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe; a nora contra sua sogra. Enfim, os inimigos do homem são os da sua própria casa (Mq 7,2-6).

A conclusão milenar de Miquéias deixa claro para nós que a maioria dos problemas gravíssimos de falta de humanidade, respeito, solidariedade e compreensibilidade acerca do próximo são gerados nas casas, onde o mandamento da honradez sobre pai e mãe (Ex 20,12) inexiste e o que mais se encontra são cada vez mais aglomerados de pessoas e menos famílias de verdade.

O “lar”não só não é mais doce, como também está se acabando. Aqui está o problema – em querermos consertar os políticos de Brasília e converter os nossos vizinhos; se esquecendo porém de que muitas das vezes dormimos com o inimigo e nem ligamos.

Se já sabíamos disso há tanto tempo, porque nada ainda foi feito? Ah, talvez porque deva ser bem melhor continuar falando mal dos erros alheios, discutindo sobre o que faríamos com um milhão de Reais, criticarmos os pais que deixam seus filhos de lado e ainda esperarmos os corolários se desenrolarem para que aí – e somente aí – pudéssemos tratar. Afinal de contas, dá muito trabalho ser exemplo e espelho nítido imaculado, refletindo tão somente a boa dádiva de Deus.

As coisas estão piorando tanto, que corremos o risco de daqui a dez, vinte anos, chegarmos ao ponto de lembrarmos com saudade desta época em que hoje vivemos, falando dela como um tempo de paz e harmonia do qual sintamos saudades...
...
Só Vitória!

domingo, 5 de abril de 2009

Porque descontamos nossa raiva em quem menos merece?

..
Hoje é domingo, o primeiro de um dos meses mais religiosos que existem em nosso calendário. Afinal de contas, a partir da próxima quinta as pessoas já começam religiosamente a não fazerem mais nada. A sexta então é santa; o sábado merece aleluia e no domingo comemos chocolate – ah, Cristo também é lembrado como alguém que ressuscitou nesse dia – mas os benditos chocolates dão um trabalhão para a igreja...

Mesmo nesse mês “supereligioso”, continuamos os mesmos, brigando pelas mesmas coisas, nos estressando pelas mesmas picuinhas. Quer palavra mais picuinhada do que picuinha? Enfim, independente dos dias serem maus ou bons, religiosos ou normais, fato é que nós, os seres, não mudamos muito.

Nessa nossa total falta de mudança, nos enraivecemos no domingo santo, no sábado espiritual de separação e na sexta onde as peixarias faturam. Somos santos fajutos de uma espiritualidade falsificada – essa sim é a grande verdade. Adultera-se na quinta, mas na sexta não se come alcatra – são mais fiéis à carne branca do peixe do que à carne branca de suas esposas. Na segunda se rouba, na terça se mata, na quarta se xinga assistindo ao jogo e na quinta se trai a esposa com a secretária. Ah, mas na sexta... não se come carne vermelha de jeito algum!

Em suma, a exatamente uma semana do feriado do chocolate (também conhecido como páscoa) continuamos discutindo com quem amamos, brigando com nossas noivas e muitas das vezes sem saber até mesmo por que. Somos tão DEScontrolados, que eu comecei esta postagem pensando em escrever sobre algo; me perdi no meio da “páscoa” e aqui estou eu de volta falando sobre como descontamos nos outros os estresses de trabalho, de família etc... creio que somos rixosos por natureza.

Acredito ainda que a verdade esteja no fato de que fazemos isso justamente porque não conseguimos dosar e aglutinar concomitantemente meiguice e dureza, delicadeza e autoridade, paixão e razão, raciocínio e espontaneidade. Somos levados por impulsos que ficam sendo acumulados no nosso HD mental, chamado de subconsciente e que de vez em muito, liberamos tais “energias” esgotadas, para que nossa “máquina” não “dê pau”, no primeiro que apareça em nossa frente, imediatamente após o esgotamento da mesma.

Ainda que este ou esta tenha apenas pisado em nosso pé, sorrido de forma fingida, pensado mal sobre nós – enfim, basta ACHARMOS que estamos sendo ignorados, desprezados, coagidos, desrespeitados, para assim, de bate pronto, não deixarmos passar em branco, rebatermos e darmos a resposta a altura que nosso agressor merecia. Seja a altura na voz, na expressão, nos gestos, na forma etc etc etc.

A solução talvez esteja no ceder de vez em quando, ignorar em outras circunstâncias, não dar ouvidos em outra e se fingir de morto. Porém, às vezes não aguentamos e realmente falamos, esbravejamos e depois disso é esperar e esperar. Só façamos o favor de deixar o passado no lugar dele e de sabermos que a sabedoria sempre edifica e a tolice sempre destrói.

Sábio é aceitar que quase nada sabemos, muito aprendemos e que jamais tudo conheceremos.


Só Vitória!

(Ah, no decorrer da semana falo com mais calma sobre os chocolates e a páscoa, ok?)